sábado, 20 de março de 2010

PO mano não dá mais vou voltar a trampar no paraguai.




PO, MANO NÃO DÁ MAIS, VOU VOLTAR A TRAMPAR NO PARAGUAI.

Foi com essa frase ontem a noite que fui surpreendido. Ao ligar pro meu parceiro de correria, militância, projetos e intervenções na cidade. Ele me disse com uma voz trêmula, sendo perceptível seu desânimo.
“po mano, não dá mais, vou voltar a trampar no Paraguai”.
Eu fiquei triste por que isso diagnosticou o que eu já sabia.
Que as coisas estão muito difíceis para ele. Quando o conheci no ano de 2007 ele sempre me relatará os perrengues que passará trabalhando por sete anos como vendedor no Paraguai.
Do trabalho escravo que fizera, das noites mal dormidas, do baixo salário e da humilhação freqüente que sofrerá do patrão.
A sua vida nesses sete anos sé resumira ao “trabalho”. A rotina era a seguinte, acordava as 04h30min da manhã, a Kombi da loja passava as 05h00min, ás 05h40min ele já estava lá do outro lado da fronteira.
Ás Seis começava o trabalho. No Paraguai muitas lojas te contratam como vendedor, mas na verdade você vai fazer muito mais que isso. Carregar e descarregar mercadorias, limpar a loja, e uma série de coisas atípicas.
Como receber treinamento para roubar clientes de outras lojas, andando até a loja concorrente e dizendo que a mercadoria dali não presta. Depois de um dia árduo de trabalho, fechava a loja às cinco da tarde. Atravessa a ponte da amizade a pé, entrava no ônibus e chegava Lá pelas sete horas em casa.
Ia Jantar e lá pelas 9h da noite dormia. No outro dia ás 04h30min da manhã recomeçara tudo de novo e, assim se prossegue de segunda á sábado.
A história desse jovem é como a maioria dos jovens da periferia de Foz. Sem oportunidades de um emprego na cidade. Vão vender sua força de trabalho no País vizinho. Não tendo os mínimos direitos trabalhistas assegurados. Sem carteira assinada, nem vale transporte, nem almoço.
Faz tudo isso para recebem uma mixaria com o salário de R$550 reais. No final das contas acaba ficando com o salário liquido de R$380 reais.
Entre outros empregos ele trabalhou no centro de Zoonoses, DJ e vendedor de DVD.
No centro de Zoonoses talvez tenha sido o melhor emprego. Tudo ia bem até que um dia, ele escreve um poema retratando algumas questões da cidade como o da epidemia da dengue, e das dificuldades cotidianas que sofrerá.
Seu poema foi selecionado para um jornal da prefeitura. Naquela ocasião o atual prefeito aparece para cumprimentá-lo,direcionando a ele um amigável aperto de mão.
Ele deixou o prefeito no vácuo. Honrosamente se negou apertar a mão de um sujeito que tanto fala e pouco faz. A sua magoa era muito grande com aquece sujeito, pois sua favela tinha sido removida e ele ficará agora longe dos antigos vizinhos e amigos.
Passado esse acontecimento, foi demitido sem receber muitos esclarecimentos.
Quando trabalho como DJ tocou em muitos bailes, boates e aniversários. Certa vez em um aniversário de 15 anos de uma moça, o pai que era o financiador da festa, pediu para que se colocassem cortinas que o tampavam. A justifica (se é que isso se justifica). Foi clara você não tem o “perfil” da festa.
Um jovem pardo, oriundo de periferia e com a camiseta do Racionais mc´s, não podia sair nas filmagens daquela festa. Após essa humilhação ele desistiu de tocar em festa principalmente de classe média. Dali para frente só tocou músicas de protestos, e nunca mais teve animo para prosseguir como DJ.
O trampo de vendedor de DVD Foi talvez o emprego que ele mais gostava . Ele andava pelos bairros da cidade, conversando com geral na rua e comercializando o material. Dessa forma ele tentará politizar muita gente, não vendia filmes que para ele atacava o seu povo. Assim muitos filmes de Hollywood não eram comercializados por esse humilde vendedor.
Ele substituirá Rambo, Pearl Harbor, entre outros clássicos de guerra por documentários e filmes com um sentido mais humanitário. Não vendia também nenhum filme pornô, nem filmes fascistas como o tropa de elite.
Tudo ia bem quando em uma operação em uma favela feita por policiais civis, ao arrombarem seu barraco prenderam todo seu material. Após ser chamado de criminoso por vender materiais piratas e tomar alguns cascudos da policia, foi liberado. Mas o prejuízo que tomara foi irreversível agravando ainda mais a sua crise econômica.
De lá para cá foram alguns meses de bicos, e de ajuda de parentes e de amigos. Certa vez ele até brincará que tava recebendo mais ajuda que ás vitima do Haiti.
Brincadeiras a parte, as dificuldades seguiram e se agravaram. Sem nenhuma possibilidade e escapatória. Agora nessa próxima segunda-feira ele retornará para aonde ele menos queria. Para a rotina desumana e cruel do trabalho informal do Paraguai.
Não terá mais tempo para escrever seus poemas, nem brincar com os sobrinhos e muito menos para continuar com seu trabalho social na cidade.

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