domingo, 28 de março de 2010

O herói de chacarita


Chacarita é a única e imensa favela de Assunção, capital do Paraguai. Sua unicidade a diferencia de boa parte da noção pré-estabelecida de periferia, pois a Chacarita se localiza no centro, encostada no palácio dos Lopez, referente à casa do presidente no Brasil.
Partindo dessa concepção o centro de Assunção é visto como um lugar perigoso, sendo apontado pela população local como um espaço de concentração de “rateiros” ladrões que visam dinheiro e telefones celulares.
A imensa favela de Chacarita abriga cerca de 150 mil moradores, sua extensão “invade” ainda o centro antigo da cidade, lugar freqüentado por turistas e jovens que buscam diversão nos bares da calle palma.
A Chacarita além de uma trajetória marcada pela fama de violência, incêndio, pobreza, ocupação, que transcorre as periferias de forma geral, que é alimentada pelos holofotes da grande mídia direitista, sucumbinda a propostas da higienização estadista.
De forma geral a Chacarita é alvo de olhares curiosos de quem circula pela parte “conhecida” de Assunção e se depara com aquela imensa favela. Dessa forma esse local produziu muitas histórias, constituiu suas próprias memórias e criou seu herói. Sobe esse herói que abordaremos posteriormente.


O herói de Chacarita é tão contraditório quanto o lugar.
Um velho de 61 anos que sofre há 30 anos de alcoolismo. seu Nestor é esse sujeito que vivia caído pelas ruas embarradas da Chacarita ou pelas praças do centro.
Acordava cotidianamente com a cara rabiscada pelos meninos que engraxavam sapatos na praça, o rabisco preferido dos meninos em seu rosto era a palavra “borracho” que significa Bêbado em Espanhol. A família de Nestor que era composta por uma mulher e um filho, que viviam constrangidos com a sua situação. Há três décadas se renderia ao Álcool. Os 61 anos de vida de Nestor marcavam o tempo de embriaguez que seu país viveu na mão do mandato continuo do partido colorado, de tendência conservadora e nacionalista.
Seu Nestor não fora um importante empresário, nenhum grande latifundiário foi mais um que sofreu com a extrema desigualdade do seu país, mas um cidadão Paraguaio que sonhava em ter uma terra que está detida nas mãos dos poderosos fazendeiros brasileiros.
Boa parte da sua vida, quando ainda trabalhava, Nestor vendia sua força de trabalho para as Olarias da região montanhosa de Tobati-py.
o trabalho árduo e mal remunerado o fez buscar uma vida melhor na capital Assunção, a melhora não veio, ele chegou a Chacarita quando essa era apenas uma pequena Vila denominada Ricardo Brugada, que cresceu no ritmo da corrupção do governo colorado.
Como de costume, para aliviar o stress, bebia toda noite a “Caña Fortin” uma pinga forte e popular vendida exageradamente na região do Chacarita. O exagero de Nestor o levou a séria dependência alcoolica, de lá pra cá sempre se envolvera em confusões. Em uma de suas confusões levou uma surra do dono de um boteco que já não agüentava mais a perturbação de Nestor. Revoltado o bêbado voltou na calada da noite ao boteco e ateou fogo naquele estabelecimento, como de praxe o boteco ficava num grande aglomerado de casas, o fogo se alastrou rapidamente e queimou as casas de compensado. Quando os bombeiros chegaram pouco puderam fazer, mas seu Nestor ao invés de vilão virou herói, pois era época eleitoral no Paraguai e o partido colorado aproveitou a oportunidade para conquistar mais votos, removendo aquela parcela da população para outra área dando casas novas aos atingidos. Assim Nestor virou herói de Chacarita mas, ainda permanece bêbado, caído e fodido pelas ruas.
Mas o povo tem esperanças que um dia novamente ele refaça outro ato heróico.

2 comentários:

  1. Bela estória (ou seria "história"?).Seu texto me fez reviver alguns lugares, gostos e estórias de uma fascinante viagem pelo Paraguai. Tá na hora de botarmos o pé na estrada de novo, não acha, meu caro? Parabéns por sua capacidade de absorver, observar e recuperar através de uma crônica aquilo que, de tão cotidiano, por vezes acaba se tornando invisível aos nossos olhos.
    Emilio.

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  2. Não é muito diferente daqui do brasil,os governantes fazem vista grossa para o tipo de vida que esta parte da população leva,sei que não é possível resolver tudo,mas se eles realmente quisessem poderiam amenizar bastante o problema senão sana-lo completamente.

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