terça-feira, 27 de abril de 2010

21 gramas e o peso de viver



Ontem Assisti a um filme que achei fantástico. Dirigido pelo diretor mexicano Alejandro González-Iñárritu. O drama intitulado 21 gramas me fez por muito refletir.
Esse filme explorou como poucos os limites do amor e vingança. A temporalidade da vida é exposta em momentos cruciais da existência humana. Um verdadeiro debate sobre morte e vida.
Tudo isso em uma analogia ao jeito com que as coisas acontecem na vida e que contraditoriamente parecem acontecer novamente de uma maneira na qual nunca esperamos.
O filme desafia a mentalidade humana abordando a esperança, os sonhos e as ilusões da vida.
O desejo e o amor pelo o que não está ao alcance delineiam essa história de sofrimento.
Esse filme coloca a morte sob reflexão. Revelando a culpa que ela desperta em uns, a ira que traz a outros. O recomeço que ela também pode produzir. 21 gramas é um verdadeiro bicho de sete cabeças, um sarcasmo ao destino e uma verdadeira “brincadeira” do que é viver.
Mas o melhor do filme é mostrar seus personagens como indivíduos confusos e contraditórios que lutam para enfrentar problemas que estão além de suas compreensões.
Com maestria a trama se desenvolve enquanto nos deparamos com algumas questões. Deus existe? Até aonde vamos para buscarmos a redenção? O que devemos aos mortos? Como ser feliz?
21 gramas é o peso que a pessoa perde quando morre. Mas a dificuldade que temos para aceitar a morte é como se ela pesasse toneladas.
E como medimos o peso de viver?

domingo, 25 de abril de 2010

As muitas faces de uma cidade! Um documentário, muitas vidas e resistências cada vez mais possíveis. por: Pâmella Passos

Pâmella Passos*

(...) o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. (...) estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano. (Pierre Lévy, 1999:11)

Privilegiada por assistir ao documentário “As muitas faces de uma cidade” antes de seu lançamento oficial e por ter a oportunidade de discutir com seus diretores e produtores, Mano Zeu e Danilo George, voltei ao Rio de Janeiro sedenta para escrever e coletivizar o que vi, jovens que, com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, estão resistindo e fazendo a diferença. No entanto, o impacto do retorno ao Rio pós-enchente, fez-me paralisar. As ruas entupidas de descaso, a TV transbordando insensibilidade ao explorar a dor de tantos que recorrentemente são esquecidos, me fez pensar: quantos morros desabarão até que percebermos a concentração de renda e fundiária em nosso país?

Passada a paralisia, destaco a inovação e coragem do documentário que descreve brilhantemente as contradições de uma cidade como Foz do Iguaçu, de tantas belezas naturais, que irradia energia para grande parte do território nacional, sendo ao mesmo tempo a cidade que mais morrem jovens. Rio, São Paulo, Vitória, Fortaleza, e tantas outras capitais sentir-se-iam contempladas e identificadas ao assistir esse curta, pois a película apresenta modelos de cidades que não são para todos, ou ainda, as diferentes formas de (sobre)viver na cidade. Nessas muitas faces das tão variadas cidades, encontramos jovens que arrumam seu trampo ou bico, que se divertem e que reinventam a vida nesta terra em que o Estado faz viver e deixa morrer.

A demanda do capital em ampliar seu mercado desdobra-se na redução dos preços unitários, possibilitando que novos segmentos tenham acesso a tecnologias antes restritas, estamos na fase do turboconsumo. Tal cenário nos permite pensar as possibilidades de alteração do status quo a partir dos frutos do processo de globalização. São os usos e apropriações dos meios.

Os jovens de Foz do Iguaçu exploraram estes novos caminhos, correndo os mesmo ou talvez piores riscos do que aqueles que desbravaram os mares no século XV, porém o objetivo é bem distinto. O processo é de emancipação, denúncia, criação e arte. As músicas, as cenas, o roteiro: é a cultura popular apropriando-se das novas tecnologias. Seus idealizadores, também passaram pelo curso de Agentes Culturais populares, potencializando todo o talento que possuíam. As favelas e periferias desse país aprendem a dominar as linguagens em circulação para assim falar de sua realidade a partir de seu ponto de vista.

Mas há também — e felizmente — a possibilidade, cada vez mais freqüente, de uma revanche da cultura popular sobre a cultura de massa, quando, por exemplo, ela se difunde mediante o uso dos instrumentos que, na origem, são próprios da cultura de massas. (Milton Santos,2006:144)


Parabéns aos que construíram, acreditaram e apoiaram esta iniciativa. Aos familiares e amigos dos produtores, força e convicção para saber que as retaliações virão, mas “unidos seremos sempre mais”. Estamos juntos lutando pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo.

* Pâmella Passos é professora do IFRJ E DOUTORANDA EM HISTÓRIA PELA UFF.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A promíscua relação da mídia com o poder parte 1.

Quando comecei a produzir ao lado do Mano Zeu o documentário As Muitas Faces de Uma cidade. Jamais esperei a tamanha repercussão que esse vídeo feito de forma muito artesanal, porém com muita vontade, atingiria.
Algumas vezes sonhei com o filme antes de terminar. Coisas boas e ruins passavam pela minha cabeça, quando isso acontecia. E uma questão pairava no ar, o que mudaria na minha vida depois do filme?
Bom algumas coisas me surpreenderam tanto negativamente quando positivamente e venho por aqui fazer algumas revelações.
Na verdade o que me chamou atenção foi o incomodo e raiva aparente de um editor de jornal da cidade. Que ligou na Universidade que aconteceria o debate trazendo questionamentos esquizofrênicos, de como vocês apóiam e permitem que isso aconteça?
Tentado de várias maneiras impedir que o evento acontecesse, desqualificando o evento etc.
O resquício de ditadura se reascendeu. ora, tenta tolir um debate, um filme em pleno século XXI. Em uma universidade pública. Autoritário não?
Cabe a um jornalista ou editor comprometido apóia iniciativas. Mas apoiar não é o forte dessa gente.
Acho que toda polêmica envolvendo o filme, iniciou com o release feito pelo site megafone que espalhou o conteúdo do filme. E convocou a sociedade para o debate. Assim alguns poderosos temeram . E na verdade a conclusão que chego que eles temem mais a junção de pessoas discutindo políticas em lugares públicos do que do conteúdo do filme.
Por parte da mídia de maneira geral inicialmente se manifestava com grande interesse em se divulgar e apoiar o filme.
O interesse se prolongou até a diretores e coordenadores de outras instituições. Lembro que a coordenadora de uma faculdade privada me ligou toda entusiasmada em levar o filme e debate para lá. Na ocasião eu de forma séria conhecendo a mentalidade da dona da instituição avisei “talvez o conteúdo não vai interessar. o filme é crítico, mostra a vida de jovens de periferia e crítica o capitalismo”.
Ela nunca mais me ligou. E já teve acesso ao filme. Eu duvido que os donos daquela faculdade permitiriam isso, caso essa atividade acontecesse alguém iria ser penalizado pela chefia.
Contraditoriamente sei que na noite de ontem algumas entidades tentaram organizar um outro debate sobre direitos humanos nessa faculdade e que já foi vetado. Disseram que o PNDH (Plano nacional de direitos humanos) é coisa de comunista para atacar latifundiário. Paciência. Em ano eleitoral tudo soa perigoso demais.
Isso só me entristece, pois essa cidade tem medo de debater. Coitados dos nossos jovens que vão ter concordar, aturar e pensar cada vez menos de maneira crítica e reflexiva, por falta de possibilidades vetadas, debates e questões que são silenciadas através de boicotes e ameaças. A maioria vai padecer com um censo comum, se transformando em papagaios de grandes telejornais, coisa típica de classe média.
A imprensa também se manifestou de forma muito promíscua com o filme. Antes do lançamento me ligavam todos eufóricos marcando entrevista, queriam cópias do filme etc.
Essa euforia nunca me animou, pois sabia que o conteúdo que eu trataria não iria e não deveria agradar grande parte da imprensa conservadora da cidade.
Isso se acentuou após o ataque a uma personagem do filme em um jornal da cidade. Tudo murchou. Passou a não interessar mais.
Enquanto os jornalistas, blogueiros, comunicadores que ajudaram na divulgação do filme corriam o risco de perderem emprego, sendo ameaçados diariamente por poderosos da cidade que tentavam convence editores, empresários a demitirem esses funcionários.
Mas de certa forma ficou feliz, por que mostra o quanto estamos no caminho certo quando lutamos por m outro modelo abrangente de comunicação no país.
Devido a uma série de polêmicas, intrigas, calor do debate. Houve a produção de diversos artigos, textos e o despertar da curiosidade de pessoas com o filme. Essa curiosidade já ultrapassou as três fronteiras, pessoas de Maringá, Curitiba, Londrina, São Paulo, Rio de Janeiro. Têm tido o interesse em conhecer o conteúdo do documentário.
Mas o que me mais chama atenção é como isso não vai ao ar, não vem a tona. isso não é divulgado de maneira alguma nos jornais da cidade. Que preferem promoverem o esquecimento consciente. Por um ponto final nessa história toda.
O recuo por parte da imprensa é o de não assumir a contestação assim não precisam reconhecerem que têm culpa no cartório quando não denunciam as mazelas que boa parte da população vive.
Nessa cidade têm muitos jornalistas sérios, há bons canais de expressão, gente corajosa que luta pelo direito a comunicação de todos. Muitos trabalhando inclusive para a grande mídia mas que conseguem construir bons espaços de opinião e discussão.
Mas boa parte ainda da imprensa daqui segue a retórica de Goebbels médico Nazista que ficou encarregado da propaganda desse partido que difamou essa ideologia por toda a Europa.A marca de Goebbels é sintetizada na frase.
“Uma mentira repetida mil vezes se tornará verdade”. No Brasil e em Foz do Iguaçu Goebbels fez escola.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Debate sobre o documentário As muitas faces de uma cidade, UNIOSTE, Foz do Iguaçu, por: Adriana Facina

por Adriana Facina (professora do Departamento de História da UFF)

Eu queria agradecer ao convite dos meus manos, diretores do documentário As muitas faces de uma cidade, com quem tenho aprendido tanto e vivido tantas experiências significativas, como as do Curso de Formação de Agentes Culturais Populares e do Festival Cultural Fala Favela, ambos realizados na UFF. Acho o Mano Zeu um dos artistas mais talentosos que conheço, mais um daqueles poetas primorosos que surgem nos becos e vielas das periferias brasileiras. Em Danilo Georges percebo o brilho de quem encontrou uma função para o ofício do historiador que me faz lembrar Marc Bloch, o historiador ativista que morreu combatendo o fascismo e que acreditava que a missão da História era compreender o passado para modificar o presente.

Quando vi o documentário pela primeira vez na semana passada, na cópia que eles me enviaram pelo correio, eu estava sem luz em casa, ilhada, mas ainda sem saber exatamente o que havia acontecido em minha cidade, Niterói. A bateria do computador acabou antes do fim do filme e tive de esperar até o dia seguinte para terminar de assisti-lo. Quando a luz voltou, enquanto eu ouvia as notícias sobre os mortos e desabrigados na televisão, via na tela do computador o trecho em que eram mostradas as enchentes e as pessoas que perdiam tudo nas periferias de Foz do Iguaçu. As mesmas histórias em cenários diferentes. Um desespero me invadiu a princípio, um sentimento de revolta impotente, uma raiva. Mas, após desespero, me veio uma ponta de esperança de que essas semelhanças possam ser a raiz para a construção de um novo mundo a ser erguido pelos oprimidos, pelos pobres, pretos, favelados, com sua força de sempre resistir e reconstruir, sua cultura, sua fé na vida. Aliás, se tem uma coisa que é tipicamente favelada é a fé na vida, que vem daquela certeza que se adquire quando se sobrevive a um sofrimento muito grande: eu sobrevivo, "já passei por quase tudo nessa vida", como diria Zeca Pagodinho e, por isso, não tenho medo de "deixar a vida me levar".

No Rio, a reação imediata das autoridades públicas foi culpabilizar os pobres. Usando a desgraça alheia para impor a agenda das remoções almejadas pela especulação imobiliária, o prefeito Eduardo Paes lançou decreto permitindo o uso de força policial para remover moradores de áreas de risco, o que abrange quase toda a cidade. Anunciou ainda a remoção imediata de uma das favelas mais tradicionais da cidade, o Morro dos Prazeres, localizado em região de grande valor imobiliário, e de mais uma dezena de outras a curto prazo. O governador Sérgio Cabral, o mesmo que acusou as mães da favela da Rocinha de serem fábricas de marginais, disse que as pessoas tem de se convencer a não construir moradias nas encostas e ainda culpou aqueles que foram contra os muros que ele mandou erguer para cercar as favelas e impedir sua expansão. Na minha cidade, onde até o momento foram encontrados mais de 150 corpos e há milhares de desabrigados, o prefeito e seu secretário de obras, fiéis escudeiros de uma especulação imobiliária irrefreada que há anos vem depredando a cidade, também apontaram seus dedos em direção daqueles que morreram ou perderam tudo: suas casas, seus documentos, seus entes queridos, sua história.

Talvez o impacto dessa reação daqueles que deveriam ser os primeiros a demonstrarem sua solidariedade às vítimas seja tão profundo e de longo prazo quanto as mortes e toda a devastação que suas sucessivas administrações causaram. Isso porque suas declarações explicitaram e legitimaram algo que vinha se impondo na surdina e sem alarde e, agora, com a máscara de um cinismo que há muito não se via: a imposição de um modelo de cidade que não considera a favela como território cidadão. Mal a ser extirpado ou empurrado para fora do mapa das áreas interessantes para a especulação imobiliária, a favela volta a ser alvo das antigas políticas de remoção que desconsideram algo que o documentário afirma, bem como a cultura que brota desses territórios: Favela é cidade!

Como diz a música do Rappa, o Rio de Janeiro todo é uma favela. Podemos dizer que o Brasil todo é uma favela e, em breve tempo, na visão de Mike Davis, autor do livro Planeta Favela, a maior parte da população mundial será formada por favelados.

Além de um crime contra os direitos humanos, um absurdo constitucional, um abuso de poder político e econômico, a remoção é também um atentado cultural. Como o documentário prova, as favelas e perferias são, e não é de hoje, os locais de onde surgem manifestações culturais potentes e que traduzem na forma de arte experiências coletivas de vida, de resistência, de formas de organização social, de valores como a solidariedade (que se expressa, por ex., nos mutirões. Agora mesmo na tragédia, os bombeiros reconhecem que a atuação dos moradores na remoção das vítimas dos deslizamentos de terra foi fundamental). Da favela nasce o samba, o hip hop, o funk, o grafite, o reggae, o break. Na favela se abrigou o jongo, bem como todos os batuques negros perseguidos secularmente e que assim chegaram ao século XXI. As favelas pulsam, fervilham, cheias de vida gerada por aqueles que vivem todo o tempo sob ameaça: seja da polícia, do descaso dos governantes, de políticas públicas que vêm essas áreas como laboratórios para o urbanismo, para a segurança pública etc. Favela é cultura!

Por isso, considero que uma das partes mais importantes do documentário é justamente a que fala da cultura da favela. A violência, as tragédias, o sofrimento são avidamente consumidos pela mídia corporativa e pela indústria cultural para alimentar o voyerismo das elites e das camadas médias e geralmente são apresentados de modo descontextualizado, estetizado e naturalizado. Esses temas não devem desaparecer do mapa e a produção cultural popular, periférica tem encontrado diversas maneiras de representá-los de modo alternativo, mais contundente, politizando a denúncia das condições de vida dos debaixo. Mas é urgente também tornar visíveis a cultura e a sociabilidade própria das favelas e das periferias e defender que a cidade só tem a ganhar ao assumir esse lado B como sua parte integrante. Quanto mais guetificada a periferia, maior o medo. Quanto maior o medo, maior a barbárie. Quanto maior a bábarie, maior a violência. E mais medo.

O que seria do Rio sem suas favelas? Onde nasceram as escolas de samba? Os craques do futebol? Os artistas populares? A nossa linguagem cotidiana, tão urbana e cheia de gírias? Nasceu lá onde a chapa é quente, o papo é reto, demorô já é, tá ligado?

O que seria o Rio sem a Barra da Tijuca? Ainda seria o Rio, pois aquele local, arquitetado, construído, gerido, depredado sob a batuta da especulação imobiliária, da mercantilização do território urbano é um deserto cultural. Não tem esquinas, nem sociabilidade em locais públicos, sendo os inúmeros shoppings o centro de sua vida social, vida privatizada nas "grades do condomínio que são pra trazer proteção, mas que também trazem a dúvida se é você quem está nessa prisão". Compare com uma das maiores favelas vizinhas ao bairro, a Cidade de Deus, berço do funk, do hip hop carioca, de exímios bboys, de blocos carnavalescos e escolas de samba, de festejos e muita arte, e também de artes de viver e sobreviver.

E é toda essa riqueza que está ameaçada pela lógica cotidiana do extermínio e também pelas propostas de remoções.

Espero que, na contramão do Rio, onde os governantes, incitados como cães raivosos pela mídia burguesa, hoje se voltam violentamente contra o povo favelado e buscam demitir as favelas da sua função de criadoras de uma cultura urbana, Foz do Iguaçu possa encontrar o caminho para a periferia e se reconstruir como um modelo feliz de cidade. Que parem o assassinato de jovens! Que subam as pipas no céu das favelas! No Rio, é só nelas que as crianças ainda tem a liberdade de soltar pipas.

Obrigada e parabéns, meus Manos queridos. Que vocês se aprimorem cada vez mais nas linguagens artísticas, que sejam criativos, que expressem o que se passa em seus corações e mentes,que construam caminhos para as vozes da periferias possam soar alto nos dessa gente que está surda e insensível. Nossa indignação agradece!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Documentário mostra a face oculta de Foz e incomoda os que se acham donos da cultural local por* Cátia Ronsani Castro

O documentário retratando as contradições da sociedade iguaçuense é lançado na Unioeste-Foz, no dia 13 de abril, e abre mais um importante debate sobre as condições de moradia, trabalho, lazer e entretenimento, enfim, sobre as condições em que vive parte da população de Foz.
Sendo inteiramente fiéis ao título do documentário, seus produtores retrataram mais do que a “face” que é vista e conhecida no mundo inteiro, das belezas naturais (cataratas, rios, biodiversidade de plantas e animais), trataram principalmente da face oculta da cidade (suas mais de 90 favelas e a difícil luta pela sobrevivëncia de seus moradores), uma realidade que é conhecida por poucos e ignorada pelo poder local constituído.

Ficou evidente no debate realizado posterior à exibição do documentário, que muito mais que o descaso e o abandono das seguidas gestões municipais à frente da prefeitura, essa é uma realidade produzida pelo modo de produção capitalista e que está presente em grande parte das cidades brasileiras. Nesse sentido, foi riquíssima a contribuição no debate da professora Adriana Faccina, do Rio de Janeiro, moradora de Niterói que pode relatar um pouco de todo o drama vivenciado pelos moradores dos morros atingidos pela última enchente.

Um outro aspecto que o documentário traz e que provocou um certo desconforto naqueles que selecionam e gerenciam as atividades consideradas “culturais” na cidade, foi mostrar a cultura produzida pelo pessoal da favela, como a música, a dança, a poesia, o teatro, que simplesmente não são reconhecidas e valorizadas, em virtude da concepção vigente e dominante na sociedade, originada pela divisão em classes, que só reconhece como cultura aquelas atividades que se enquadram nos padrões oficiais definidos pela classe dominate. Uma visão que desconsidera o fato da cultura ser a produção humana característica de cada período histórico e de acordo com as condições materiais e subjetivas que os homens tem de intervir no meio.

O documentário cumpre mais um importante papel no sentido da luta dos movimentos sociais pela descriminalização da probreza. Os meios de comunicação dominantes, o pensamento dominante e grande parte das ações políticas ligadas à classe burguesa, há tempos tem se empenhado em caracterizar os trabalhadores e seus filhos (empregados ou desempregados) como marginais, criminosos, entre outros. Isso fica mais evidente nas ações da polícia, quando invade morros e favelas, adentrando as casas com truculência, com armas apontadas para cabeça das crianças, quando espancam os jovens nos becos, quando ocupam as escolas para cuidar da “disciplina” e da “educação”, quando atuam com violëncia contra os atos e greves dos movimentos sociais e sindicais. Essas ações não são isoladas nem pensadas pelos próprios policiais, fazem parte da política de extermínio dos pobres que marca o pensamento da classe dominante brasileira e boa parte dos políticos que a representa.

O filme mostra quem são os moradores das favelas de Foz, o que fazem, como se divertem, como se organizam, com o que sonham e como fazem para sobreviver e tentar superar as dificuldades de uma cidade que tem política para atender turistas do mundo inteiro e se fecha para a sua população: o povo pobre e trabalhador.

Por todos esses papéis importantíssimos que o documentário vem cumprir - pela denúncia ao sistema capitalista que por sua natureza contraditória é marcado pela miséria da classe que é produtora de toda a riqueza a partir do seu trabalho - parabenizamos os produtores (Danilo Georges e Eliseu Pirocelli) e todo o pessoal envolvido na produção e divulgação do mesmo.

Acreditamos ainda, que o documentário pode ser um instrumento a mais para os educadores comprometidos com o processo de desvelamento da realidade, do funcionamento da sociedade, especialmente a realidade de Foz do Iguaçu, que propositalmente é ocultada.

* Cátia Ronsani Castro
Funcionária do Col. Est. Barão do Rio Branco e Secretária de Imprensa da APP-Sindicato /Foz

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Cidade sem cultura por: Guilherme Wojciechowski

Reproduzido da folha online.

Cidade sem cultura

Na última terça-feira (13), foi lançado em Foz do Iguaçu o documentário "As Muitas Faces de uma Cidade", produzido por Danilo Georges e Eliseu Pirocelli, ao mais puro estilo "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", uma vez que a grana disponível, tirada do próprio bolso, deu apenas para a compra da filmadora (parcelada em 12 vezes) e do combustível para levá-los aos locais de filmagem.

Na tela, o chocante contraste entre uma cidade que, ao mesmo tempo em que abriga uma das maravilhas naturais do planeta, bem como monumental obra de engenharia hidrelétrica, ostenta o título de tricampeã brasileira em homicídios de jovens entre 15 e 24 anos e esconde, em áreas invisíveis aos olhos do poder público, favelas com enormes carências sociais e estruturais.

As imagens do documentário são tremidas e, por vezes, pouco nítidas. O áudio nem sempre é claro, tendo obrigado os autores à colocação de legendas nos trechos em que ruídos alheios competem com as falas dos personagens. A edição é rudimentar e a trilha sonora, 100% artesanal, foi composta por Eliseu (Mano Zeu) ou emprestada de ilustres e desconhecidos artistas iguaçuenses.

Se você leu até aqui, ficou mais que evidente, portanto, que trata-se de um material caseiro e que jamais conseguiria espaço em canais massivos de comunicação.

Sendo assim, por que "As Muitas Faces..." vem gerando tanta polêmica e tão calorosos debates nos meios culturais da fronteira?

A explicação óbvia está no conteúdo da fita, que de tão cru e verdadeiro, chega a soar "pornográfico" aos ocupantes de cargos públicos e membros da chamada "nata" da sociedade local.

A prova maior do sucesso do documentário está, justamente, nos debates surgidos a partir de sua primeira exibição. Ao mostrar favelas e periferias ricas em manifestações artísticas, por exemplo, Danilo e Eliseu tocam em uma das chagas mais profundas do rincão iguaçuense: Foz do Iguaçu é, de fato, uma cidade "sem cultura", "sem história" e "sem memória"?

A resposta, cristalina aos olhos de muitos, porém, turva ante o inconsistente olhar da minoria que gerencia o poder, é que Foz do Iguaçu tem "cultura" para dar, impressionar e vender. O que falta e sempre faltou, na verdade, é a adoção de políticas públicas voltadas à valorização cultural e à inclusão social de camadas que, não por acaso, são hoje as principais vítimas da violência e da criminalização.

Em sua exposição durante o lançamento do documentário, por exemplo, Adílson Pasini, membro da diretoria da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, defendeu sua gestão enumerando eventos organizados pela instituição e que atraem, segundo Pasini, a atenção de turistas e os holofotes da grande mídia.

Perdeu o argumento, logo depois, quando a historiadora Adriana Facina, da Universidade Federal Fluminense (UFF), taxou como errôneo o gasto das exíguas verbas públicas em poucos e grandiosos eventos, enquanto festivais de bairro e atividades locais, com pouca visibilidade, porém, enorme potencial de transformação social, são deixados à míngua. Afinal, de nada adianta caprichar no almoço de domingo, se não houver comida para servir à mesa nos demais dias da semana.

Outra questão que ficou evidente é o desapego do poder público iguaçuense em relação à preservação da história da cidade e da memória de seus moradores. É assim, por exemplo, que mesmo sendo um importante ponto de referência, Foz do Iguaçu não conta, sequer, com um museu para contar sua história e funcionar, na pior das hipóteses, como um atrativo a mais no roteiro dos viajantes.

Em tal museu, poderiam ser expostos, entre outros objetos simples, mas de inestimável valor, recortes de jornais que mostram, em suas manchetes, que problemas como desemprego, criminalidade e marginalização das camadas mais pobres arrastam-se há mais de três décadas e, de lá para cá, pouco ou nada mudou nas páginas do noticiário policial.

Investir em cultura, socialização e geração de empregos é, como eu e você sabemos, bem mais barato, mais humano e mais eficaz que policiamento e repressão no combate às mazelas de ontem, de hoje e de amanhã. Falta, apenas, que governantes das três esferas percebam-se deste fato e tenham ciência de que, mesmo que a longo prazo (superior aos quatro ou oito anos de mandato), os resultados certamente virão.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O documentário, a grande mídia e o debate

Em primeiro lugar como produtor do documentário venho esclarecer que “As Muitas Faces de uma Cidade” foi feito de maneira autônoma e legitima. Mostrando personagens reais e problemas reais da cidade. Nada é inventado nem fictício.
Não é de interesse dessa produção apontar para culpados; e sim o de expor contradições dessa cidade.Problemas antigos como falta de emprego, criminalização da pobreza,falta de alternativas para a classe trabalhadora empobrecida. Um desafio a todos.
Mas fico completamente surpreso com a reação de alguns setores da sociedade que utilizam falas de personagens para promover ataques pessoais e se defenderem de "acusações". Lembrando que o nome de nenhum político ou chefe de algum setor é citado. Estranho é a reação de muitos sujeitos que parecem se sentir ameaçados com o filme.
E pior do que isso, tentando desqualificar o debate e a instituição que abriu as portas para que toda sociedade pudesse expor seus pensamentos. Sem debater e discutir como superaremos os problemas e dificuldades que temos. Que medo é esse?
Esse evento mostrou a importância de espaços de discussões. O microfone foi aberto a todos. Muitos se explicaram, outros atacaram, mas a maioria foi lá para participar e para conferir um lançamento de um documentário. E para reconhecer a necessidade de que algo a mais é preciso ser feito.
O desafio que o documentário promove é o de buscar alternativas humanas para a periferia, ao invés de defender o encarceramento em massa ou o extermínio.
Não entendo e não aceitarei o pensamento autoritário de pessoas que se sentem donos da cidade, donos da imprensa, donos de uma universidade pública. A UNIOESTE é de todos. Como é de todos o direito a liberdade de expressão, manifestação, direito a comunicação e o direito a cidade.
Por isso apoio a liberdade de expressão e de indignação de Arinha rocha presidente da Casa do Teatro. Ela não deve ser atacada por entender que não há e não houve interesse na cultura da cidade. Se ela quanto aos que pensam assim devem ser respeitados.
São situações como essas que apontam para a falsa democracia que vivemos. Não devemos aceitar ameaças, nem ataques pessoais e muitos menos recuar. A sociedade tem que avançar; e esse avanço passa pela complexidade humana. O de superar as mazelas geradas por um sistema que a cada dia produz mais pobres, marginais e desempregados.
E produz cada vez mais pessoas donas disso ou daquilo.O sentimento de posse é cruel. A liberdade passa pelo direito ao contraditório, ao pensar diferente.
Nas palavras da Adriana Facina professora que contribuiu com o debate. ”Peço a todos que queiram mudar essa cidade de verdade que se aprimorem cada vez mais nas linguagens artísticas, que sejam cada vez mais criativos, que expressem cotidianamente o que se passa em seus corações e mentes, para construirmos caminhos para que as vozes das periferias e de todos possam soar alto. E sensibilizar essa gente que está surda e insensível. Nossa indignação agradece!”

Paz sem voz não é paz, é medo.

Danilo Georges.

nota da casa do teatro a imprensa e algumas ponderações

Ao
Jornal A Gazeta do Iguaçu
Att. Sr. Rogério Bonato
Nesta

NOTA OFICIAL DA CASA DO TEATRO
Pendências (e das boas!)
Tendo em vista a veiculação da coluna de sua autoria, publicada neste diário, na edição do dia 14 de abril, sob o título “Pendengas e das boas”, aludindo ao lançamento do documentário As muitas faces de uma cidade, de autoria dos produtores iguaçuenses Danilo Georges e Eliseu Pirocelli, onde a Casa do Teatro é envolvida em seus comentários, cumpre-nos pedir a publicação dos esclarecimentos que seguem:

1) A diretora desta instituição, a atriz Arinha Rocha, é ouvida na produção mencionada, onde também participam o DJ Carlos “Caê” Traven, o músico Adriano Lopes da Silva, o jornalista Aluízio Palmar, o grafiteiro Anderson Bezerra, o MC Luciano Antonio, o professor de dança Michael Rodrigues, o DJ Nelson Tiago e o flanelinha Thiago Egea. Todas estas pessoas emitiram as suas opiniões e impressões sobre a vida social, cultural e política de nossa cidade, de forma democrática e transparente, beneficiadas com o supremo direito à liberdade de expressão, felizmente, ainda em vigor em nosso país;
2) No texto de sua autoria, a coluna desfere ataques gratuitos baseando-se em um fragmento de nossa entrevista concedida aos realizadores do documentário, abrangendo apenas uma frase, tornada pública durante a divulgação do material, retirada de um contexto maior, conforme mostra o audiovisual.
A sua reação a tão pequeno comentário, de não mais de uma linha e de parcos caracteres, nos provocou surpresa e estranhamento pela raiva, desrespeito e destempero expressos em suas palavras. Acreditamos que espaços públicos, de debate e de publicação de posições e notícias, devem ser utilizados para a boa e saudável discussão, garantindo a pluralidade de idéias e a diversidade de protagonistas, atributos que alargam a democracia e aprofundam o entendimento das pessoas quanto ao temas abordados. Caso esta sua atitude, ao proferir ofensas, tenha a intenção deliberada de tentar nos calar, permita-nos contrariá-lo uma vez mais: não cedemos e não recuamos mediante nenhuma pressão;
3) Na sua condição de servidor público, funcionário remunerado pelos cidadãos iguaçuenses, teria melhor finalidade o seu espaço na imprensa se fosse usado para elencar as realizações, ações e resultados obtidos pela pasta de sua responsabilidade. Mais ainda, na sua posição de servidor público, deveria incentivar e apoiar a produção cultural do município, voltada para o exercício da solidariedade e da coletividade, ao invés de propor um ranking ou competição entre os realizadores culturais, como foi sugerido em sua lavra;
4) Em sua coluna, o senhor falta com a verdade ao insinuar que tentamos nos “apropriar do teatro Barracão” (palavras suas, grifo nosso). Manifestamos, isto sim, uma solicitação para realizar a GESTÃO deste equipamento de cultura, que seria feita de forma efetiva (com a realização de atividades artísticas e culturais) e compartilhada (com a participação de entidades e produtores da cidade). O pedido seguiu os trâmites que regem a administração pública e que

Arte para um mundo melhor!


garantem a impessoalidade do serviço público, mediante o processo nº 00136507, registrado no protocolo geral da Prefeitura Municipal, em 14 de maio de 2008.
Como se sabe, manifestado o interesse da gestão municipal, cumpridas todas as normas legais, tal pedido seria ainda enviado à Câmara Municipal de Vereadores, para a devida apreciação parlamentar. Não soubemos de manifestações contrárias ao nosso pedido. Aliás, até o momento, sequer obtivemos resposta ao referido encaminhamento. Caso existisse em nossa cidade o Conselho Municipal de Cultura, conforme preconizam antigas e diferentes leis municipais, o nosso pedido de gestão também seria encaminhado para a análise deste fórum superior, como forma de garantir a ampla e profunda discussão, sempre em favor do interesse coletivo e do bem comum.
Há ainda a lembrar que o senhor, na condição de gestor da cultura deste município, realizou diversas ligações telefônicas a esta entidade e ao telefone celular privado da direção desta associação, propondo, oferecendo e entusiasmando o pedido em questão;
5) Na referida coluna, fica sugerida a falta de representação desta entidade na discussão de leis para o segmento cultural. O senhor esqueceu - ou não quis lembrar - ou omitiu as minutas e projetos que lhe foram entregues, imediatamente após iniciar a sua gestão frente à Fundação Cultural, onde são detalhadas medidas para aprofundar e democratizar o acesso, a produção e a fruição cultural da cidade, resultado de discussões e debates públicos. Caso ajude, sugerimos consultar as edições anteriores desta “A Gazeta”, que trazem matérias sobre este assunto.
Além disso, já deixamos público antes, não participamos de algumas reuniões e encontros onde supostamente se discutiria política cultural. Ocorre que tais eventos já previam de forma antecipada que não seriam efetivados os mecanismos de controle social da cultura, como o Conselho Municipal de Cultura, e as ferramentas de financiamento, como os fundos públicos destinados ao setor. Sem isso, como ocorre ainda hoje, toda e qualquer discussão sobre a cultura é inócua, improdutiva e irrelevante. É preciso dizer que a única representação a que nos permitimos se dá nos palcos. Na vida cotidiana, não adotamos personagens, não participamos de encenações e não negociamos a verdade.
6) Diante disso tudo, reiteramos e não cansamos de mencionar o histórico de atividades realizadas pela Casa do Teatro, que percorre por quase duas décadas, reunindo artistas, produtores culturais e mobilizadores sociais. Entre as nossas principais parcerias, podemos destacar os seguintes: Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Secretaria Especial dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, Ministério da Cultura e Itaipu Binacional, entre diversas organizações sociais locais.
7) Por fim, como não acreditamos na omnisciência e nem na onipresença de seres humanos, além de nos dirigirmos ao seu veículo de imprensa, também enviamos a presente correspondência aos seus cuidados, na sede da Fundação Cultural, para que o senhor tenha acesso ao presente conteúdo tanto na condição de colunista como de ocupante de cargo público, com o único objetivo de proporcionar a veracidade e a qualidade na informação.
Atenciosamente,


Foz do Iguaçu, em 15 de abril de 2010.




Arinha Rocha, pela Direção da Casa do Teatro

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Vídeo Muitas Faces de Foz foi lançado na Unioeste (Por: Jackson Lima)

O vídeo "As muitas faces de uma cidade" foi lançado ontem lá no auditório do campus Foz do Iguaçu da Unioeste. Estava lotado como se pode ver na foto que tirei logo que cheguei. Um pouco depois disso, o auditório lotou ao ponto de haver gente sentada no chão e em pé por toda parte. Entendi que Foz do Iguaçu tem sede de oportunidades para que as pessoas se conheçam. Posso dizer que aprendi muito no evento e sem demagogia. O vídeo foi realizado por Danilo Georges que saiu da Unioeste Marechal Cândido Rondon e o Eliseu Pirocelli do movimento Hip Hop. Os dois participaram de um curso e estágio no Rio de Janeiro e conheceram movimentos como o Fala Favela. Uma grande coisa no vídeo foi a declaração de pessoas que vivem em favelas e contam sua experiência de vida.

A professora Adriana Facina da UFF de Niterói fez parte da mesa. Ela destacou aquela qualidade das favelas do Rio de Janeiro de serem verdadeiras incubadoras de cultura, de música, samba, carnaval. O que seria do Rio de Janeiro sem as favelas? Não seria o Rio do carnaval, das escolas de samba, da criatividade, do linguajar rico em gírias, dessa cultura pulsante que é a cidade hoje. Ela lembrou também de bairros cariocas como a Barra da Tijuca? Lugar pobre em cultura, sem esquinas e barzinhos. Vindo de Niterói a professora pôde falar com autoridade sobre o desastre administrativo, humano, social e meteorológico que até o momento já resultou no resgate de 100 corpos. Falou da principal reação do governo municipal: a remoção das comunidades que é assunto polêmico; a culpabilização das vítimas, a criminazliação da pobreza. Há lugares no Rio onde as autoridades estão construindo muros para separar as favelas da cidade. Essa presença da professora ajudou a acalmar os ânimos. Uma ausência no vídeo e no evento foi menção aos números positivos e positivistas da Prefeitura de Foz do Iguaçu. São aqueles números que tratam da quantidade casas construídas e entregues; da construção e entrega de creches; da construção e entrega de centros de convivência e do salto qualitativo na melhora da saúde de Foz do Iguaçu.

Na platéia havia muitas pessoas da Prefeitura. Destaque para o professor Pasini da Unioeste que é diretor Financeiro da Fundação Cultural e para o jornalista Adelino de Souza. Os dois se levantaram e deram seus recados. Pasini disse que a verba da Fundação Cultural não é tão grande como se anuncia e que considerando o tamanho das verbas. Até que se faz muita coisa: Carnaval, Feira do Livro, Fartal, Banda Musical, Coral, Exposições etc. Só que o outro lado questiona critérios do que se chama "cultura de eventos". Ficou dito que isso é questão de ponto de vista e de lado. O conceito de verba entre poder e não-poder não batem. Daí o diálogo.

Adelino de Souza com quem trabalhei tantos anos fez um comparativo dos números entre Paulo e Samis. A audiência não gostou porque, ouviu-se, a discussão deveria ser mais ampla e os participantes queriam novidades na área do debate. Mas escutei comentários sobre a coragem do Adelino. "Ele levantou e deu a cara e disse estou aqui pela secretaria de Governo". Eu também gostei. "Em Foz tudo é sempre a primeira vez", disse Silvio Campana, ao parabenizar a reunião evitando dizer que é a primeira vez que Foz fez isso ou aquilo. Mas mesmo assim, não sei se foi a primeira, mas foi uma iniciativa importante que abriu as portas da Unioeste a uma boa quantidade de manos e DJs e a vários moradores da favela.

Eu falei um pouquinho e como fui apresentado como militante eu aproveitei e disse que no momento eu estou militando por pelo menos duas causas. A primeira é: pelo amor de Deus, se você não é PF, PFR, FBI, Massad, CIA e outras entidades de inteligência e políciais pare de chamar a nossa região de Tríplice Fronteira. Tríplice Fronteira é uma "construção de fora" como já estudos e textos do IPARDES, e outros para os quais dou link aqui. Segundo pedi que se olhe para os bairros sejam eles classe média, alta, baixa como lugares onde a vida acontece e por isso pensemos em "bairrizar" um monte de coisas. Última coisa: a reitoria da Unioeste enviou documento para abrir processo contra os produtores do vídeo por terem usado a logomarca da Universidade no cartaz. Eu pediria que se retire esse processo porque fica feio. O apoio foi o fato da Universidade ter cedido o auditório. Não é um apoio?

sábado, 10 de abril de 2010

sites e blog´s que divulgaram o documentário

Venho aqui declarar uma satisfatória surpresa. Ao olhar no youtube e ver que a exibição do trailler do documentário já passou das 400. Ou seja, uma média de 100 acessos ao trailler por dia. Fui olhar pelo google quantos sites, blog´s etc. divulgaram o filme,e minha surpresa foi ainda maior quando eu e o Zeu alencamos a divulgação do doc na internet. E pensar que tudo começou com um blog e posteriormente a um site e dai para frente não parou mais. Isso só vem mostrar a força da mídia independente e da internet. Agradeço de coração a todos que apoiaram essa iniciativa, pela força e viva a liberdade de expressão.

Que avancemos cada vez mais na luta pela democratização dos meios de comunicação.

Abaixo a relação de sites e blog´s que falam sobre o documentário. Sem contar os nossos é claro.


Fundação Nosso Lar
http://www.fnl.org.br/?language=pt

Ceará News
http://cearanews.blogspot.com/2010/04/so-pitada-do-documentario-as-muitas.html

H2Foz
http://www.h2foz.com.br/modules/noticias/article.php?storyid=13734

Gazeta Maringaense
http://gazetamaringaense.blogspot.com/2010/04/as-muitas-faces-de-uma-cidade.html

Carlos Luz
http://carlos-luz.blogspot.com/2010/04/as-muitas-faces-de-uma-cidade.html

A greve geral
http://agrevegeral.blogspot.com/2010/04/por-falar-em-lancamentos.html

Megafone
http://megafone.inf.br/modules/noticias/article.php?storyid=1972

O Blog de Foz
http://blogdefoz.blogspot.com/2010/04/video-sobre-desigualdads-e-contradicoes.html

Unila
http://noticiasunila.blogspot.com/2010/04/documentario-as-muitas-faces-de-uma.html


DPQ
http://direitopraquem.blogspot.com/2010/04/as-muitas-faces-de-uma-cidade.html

BD Youtube
http://bdyoutube.com//list.php?q=documentario+as+muitas+faces&filter=on&sa.x=29&sa.y=21

Video Life
http://www.videolife.tk/list.php?q=document%C3%A1rio+muitas+faces&filter=on&sa.x=34&sa.y=17

Boca Maldita
http://www.bocamaldita.com/modules/novidades/cronicas.php?cronica=2033

100 Fronteiras
http://www.revista100fronteiras.com.br/noticias/documentario+expoe+contradicoes+de+foz+do+iguacu.html

Foz Video
http://itapedigital.com.br/itapetube/Foz/list.php?q=muitas+faces&filter=off&sa.x=21&sa.y=19

João Arruda

http://joaoarruda.com.br/ja/?p=6313


(Por: Danilo Georges: http://www.metamorfozesnacidade.blogspot.com/


Sopa Brasiguaia
http://sopabrasiguaia.blogspot.com/2010/04/documentario-aborda-contrastes-de-foz.html

Lojas no Paraguai
http://www.lojasnoparaguai.com.br/noticias/documentario-expoe-contradicoes-de-foz-do-iguacu-h2-foz

Língua de trapo
http://www.linguaditrapo.com/

Foz Online
http://www.fozonline.com/noticias.php?action=det&id=10

Ana Palu
http://www.anapaulapalu.com/

Kendincos
http://pt.kendincos.net/video-nfdljvtf-trailler-do-document-rio-as-muitas-faces-de-uma-cidade.html

Gorrapuestas

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:-1BO_1qKZ2MJ:www.gorrapuestas.com.ar/b_GP_TRAILLER.html+document%C3%A1rio+as+muitas+faces+de+uma+cidade+eliseu+pirocelli+danilo+georges&cd=20&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
Iguaçu vídeos
http://itapedigital.com.br/itapetube/igua%C3%87u/list.php?q=muitas+faces&filter=off

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Toda força ao morro do estado-rj

Quarta-feira, 7 de abril de 2010
Toda força ao morro do Estado-RJ


O morro do estado localizado no centro de Niterói foi minha primeira moradia no estado do RJ.
Há precisamente um ano e 2 dias atrás conhecia essa comunidade e com ela me identificava. Lá subi com a professora Adriana facina e o amigo e dirigente do MST Mardonio Barros.
A intenção dos dois militantes e articuladores de movimentos sociais é que durante os três meses que eu passaria no RJ, fazendo um curso de extensão sobre agentes populares na UFF, pudéssemos, eu e meu irmão Zeu, desenvolver um trabalho junto com a Associação de moradores do morro do Estado, a AMME.
Lá se foram três meses de muitas lutas, angústias, alegrias e muito aprendizado. Pois lá vi a real do que significa uma pacificação forçada pela policia. Lá conheci ex-meninos do tráfico que hoje têm uma vida "normal" e outros que saíram dessa vida e passam fome. Lá escutei os primeiros Funk´s. E lá fiz diversas amizades que me acompanharam posteriormente pelo ano de 2009.
O morro do Estado foi uma grande escola de militância de direitos humanos. Ao lado do Tão e do Madureira aprendi como a vida no morro é efemêra e como devemos intervir cotidianamente nessa realidade, como é viver a margem de tudo e mesmo assim sonhar todo dia por uma vida melhor. Lutamos muito ai contra o descaso dos órgãos públicos para transformar essa realidade de abandono, preconceito e afastamento dessa população.
E hoje vejo o quanto nossas demandas eram e serão cada vez mais importantes. Essa tragédia só nos revela a violência dessa exclusão, da falta de direitos básicos como moradia decente. Enquanto esse Estado fascista investe bilhões em propaganda das olimpíadas é o mesmo Estado que nega o mínimo para essa classe trabalhadora empobrecida.
Friso que mesmo a grande mídia sempre apontando esse lugar como reduto de marginais e etc, digo que a casa que morei no beco do 30 nunca teve fechadura a porta mal fechava e mesmo assim nunca tivemos problema algum. Sempre eu e Zeu fomos muito respeitados por essa comunidade, o ato mais violento que vi lá foi o de nos zoarem por termos um sotaque de caipira. Violência lá eu só vi na rispidez da policia do GEPAE e do Estado que nega direitos básicos a esse povo.
No morro do estado eu presenciei a luta incansável de uma associação que luta cotidianamente por justiça e por direitos básicos. E quando vêm a tona através da mídia a realidade desse lugar vêm a realidade do por quê lutar, o por quê querer transformar. Não podemos parar, desistir, é nessa hora que os que lutam devem lutar dobrado e aqueles que ainda não trilharam a estrada militância comecem porque só lutando as coisas podem melhorar.
E ao ver essa tragédia lembro das pautas das reuniões, dos debates travados e da nossa luta que por hora a chuva carrega. E que nesse momento essa enchente afunda nossos sonhos nossa fé e frustra até mesmo a vontade de continuar vivendo.
Peço que toda população não aceite o discurso da grande mídia que culpará a natureza por essa tragédia o culpado é o estado. A causa não é natural e sim social.
E que os jovem militantes da UFF e de outras escolas que esse é o momento de por a práxis da militância política em prática e carregar no peito a solidariedade guevariana "de que aonde houver injustiça lutaremos" e também consolar os irmãos do morro do Estado nesse momento de dor e prejuízo.

Não sei se consegui escrever coerentemente, pois estou nervoso. Espero por noticias daí, mas espero mesmo por justiça e que isso seja um basta. Não devemos mais aceitar viver assim. A tragédia é sempre com os mesmos, é sempre com os pretos.

Espero por noticias de Guelo, Facapa, Chiquinho, Tão, Madureira, Fernanda entre outros amigos.

Ficarei daqui com os olhos marejados enquanto escrevo e com o coração apertado. Clamando coletivamente com vocês por justiça. E que tenham força para superar tudo isso. E que não só reconstruam essa favela mas, também um novo mundo.

Danilo geroges-quinta-feira 8 de abril de 2010.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

AS MUITAS FACES DE UMA CIDADE O TRAILER E ALGUMAS PONDERAÇÕES



Esse documentário é dedicado aqueles que, cotidianamente, são humilhados, desreipetados, violentados, presos e banidos.
considerados feios, sujos e malvados por boa parte da população que insiste em maltratar a classe trabalhadora empobrecida. Esses fingem não saber que a pior violência é a social.
Nesse documentário a saída apontada não é a tradicional que clama por filantropia ou caridade. E sim pela solidariedade na luta pelos seus direitos e também em reconhecer sua imensa capacidade e criatividade. Revelando assim suas múltiplas humanidades.
As muitas faces de uma cidade é um retrato real daqueles que insistem em sobreviver. Evidenciando a teimosia desses agentes sociais que resistem e lutam para reestabelecer um sentido mais humano a vida.


"SE NÃO HOUVER FRUTOS
VALEU A BELEZA DAS FLORES
SE NÃO HAVER FLORES
VALEU A SOMBRA DAS FOLHAS
SE NÃO HOUVER FOLHAS
VALEU A INTENÇÃO DAS SEMENTES" (HENFIL)