domingo, 28 de março de 2010
O herói de chacarita
Chacarita é a única e imensa favela de Assunção, capital do Paraguai. Sua unicidade a diferencia de boa parte da noção pré-estabelecida de periferia, pois a Chacarita se localiza no centro, encostada no palácio dos Lopez, referente à casa do presidente no Brasil.
Partindo dessa concepção o centro de Assunção é visto como um lugar perigoso, sendo apontado pela população local como um espaço de concentração de “rateiros” ladrões que visam dinheiro e telefones celulares.
A imensa favela de Chacarita abriga cerca de 150 mil moradores, sua extensão “invade” ainda o centro antigo da cidade, lugar freqüentado por turistas e jovens que buscam diversão nos bares da calle palma.
A Chacarita além de uma trajetória marcada pela fama de violência, incêndio, pobreza, ocupação, que transcorre as periferias de forma geral, que é alimentada pelos holofotes da grande mídia direitista, sucumbinda a propostas da higienização estadista.
De forma geral a Chacarita é alvo de olhares curiosos de quem circula pela parte “conhecida” de Assunção e se depara com aquela imensa favela. Dessa forma esse local produziu muitas histórias, constituiu suas próprias memórias e criou seu herói. Sobe esse herói que abordaremos posteriormente.
O herói de Chacarita é tão contraditório quanto o lugar.
Um velho de 61 anos que sofre há 30 anos de alcoolismo. seu Nestor é esse sujeito que vivia caído pelas ruas embarradas da Chacarita ou pelas praças do centro.
Acordava cotidianamente com a cara rabiscada pelos meninos que engraxavam sapatos na praça, o rabisco preferido dos meninos em seu rosto era a palavra “borracho” que significa Bêbado em Espanhol. A família de Nestor que era composta por uma mulher e um filho, que viviam constrangidos com a sua situação. Há três décadas se renderia ao Álcool. Os 61 anos de vida de Nestor marcavam o tempo de embriaguez que seu país viveu na mão do mandato continuo do partido colorado, de tendência conservadora e nacionalista.
Seu Nestor não fora um importante empresário, nenhum grande latifundiário foi mais um que sofreu com a extrema desigualdade do seu país, mas um cidadão Paraguaio que sonhava em ter uma terra que está detida nas mãos dos poderosos fazendeiros brasileiros.
Boa parte da sua vida, quando ainda trabalhava, Nestor vendia sua força de trabalho para as Olarias da região montanhosa de Tobati-py.
o trabalho árduo e mal remunerado o fez buscar uma vida melhor na capital Assunção, a melhora não veio, ele chegou a Chacarita quando essa era apenas uma pequena Vila denominada Ricardo Brugada, que cresceu no ritmo da corrupção do governo colorado.
Como de costume, para aliviar o stress, bebia toda noite a “Caña Fortin” uma pinga forte e popular vendida exageradamente na região do Chacarita. O exagero de Nestor o levou a séria dependência alcoolica, de lá pra cá sempre se envolvera em confusões. Em uma de suas confusões levou uma surra do dono de um boteco que já não agüentava mais a perturbação de Nestor. Revoltado o bêbado voltou na calada da noite ao boteco e ateou fogo naquele estabelecimento, como de praxe o boteco ficava num grande aglomerado de casas, o fogo se alastrou rapidamente e queimou as casas de compensado. Quando os bombeiros chegaram pouco puderam fazer, mas seu Nestor ao invés de vilão virou herói, pois era época eleitoral no Paraguai e o partido colorado aproveitou a oportunidade para conquistar mais votos, removendo aquela parcela da população para outra área dando casas novas aos atingidos. Assim Nestor virou herói de Chacarita mas, ainda permanece bêbado, caído e fodido pelas ruas.
Mas o povo tem esperanças que um dia novamente ele refaça outro ato heróico.
sexta-feira, 26 de março de 2010
Lançamento do documentário as muitas faces de uma cidade
Lançamento do Documentário As Muitas Faces de Uma Cidade
13 de abril, 19h, UNIOESTE - Campus Foz
Mesa de Debate: (Tensões e Contradições da Cidade)
Mediadora: Silvana Souza (Pedagoga/UNIOESTE)
Debatedores: Danilo Georges (Historiador/Produção documentário)
Eliseu Pirocelli (Movimento Hip-Hop/Produção documentário)
Jackson Lima (Jornalista)
Adriana Facina (Historiadora/UFF-RJ)
O documentário "As muitas faces de uma cidade" propõe exibir numa perspectiva histórica, o cotidiano de pessoas comuns. Busca-se dessa forma revelar dinâmicas tecidas pelas tensões e contradições da cidade de Foz do Iguaçu, a partir da Vivência de personagens reais que moram na periferia, ocupações, ruas ou que desenvolvem algum trabalho artístico, cultural e social na cidade.
Assim acreditamos que esses sujeitos produzem outras relações e significações de pertencimento, que conflitam com a memória hegemônica da cidade, para qual a cidade é sempre lembrada pelas belezas naturais como Cataratas, Parque do Iguaçu, etc.
O filme também representa um marco na luta contra a estigmatização da periferia, como berço da criminalidade e violência, mostrando que nessas áreas se produz muito mais do que isso, apresentado assim uma nova face da favela.
Acreditamos assim estarmos combatendo a lógica da criminalização da pobreza, que é a lógica propagada pela classe dominante que dissemina a idéia de que a criminalidade vem sempre da periferia, da favela, e assim se construiu um perfil de “criminoso” na sociedade e se produziu um medo absurdo em relação a esses lugares.
Pretende-se assim mostrar a cidade a partir de diversos olhares, de diferentes moradores da cidade, combatendo a lógica de história única ou oficial. "As muitas faces" é um desdobramento de dois anos de uma pesquisa conjunta sobre a cidade do historiador Danilo Georges e do militante e membro do movimento hip-hop Eliseu Pirocelli, que mora na periferia da cidade.
O filme será lançado no dia 13 de abril no auditório da UNIOESTE a partir das 19 horas. Posterior à exibição do filme haverá um debate mediado pela pedagoga Silvana Souza , Prof.ª Dr.ª da Universidade.
O debate se constituirá a partir de dilemas e reflexões sobre o viver urbano na cidade e contará com a participação de Danilo Georges e Eliseu Pirocelli produtores do documentário, com a presença do jornalista Jackson Lima, que há anos pesquisa e caminha pelos bairros da cidade realizando matérias sobre os mesmos, e com a historiadora e antropóloga Dr.ª Adriana Facina, docente da UFF (Universidade Federal Fluminense) que coordena diversos projetos nas áreas periféricas do Rio de Janeiro e há anos dedica seus estudos sobre a população periférica, suas formas de sociabilização, direitos humanos, manifestações populares entre outros temas.
A entrada é franca e aberta a todos interessados.
quarta-feira, 24 de março de 2010
DA HOLANDA, PRA FAVELA
MiCamichula é uma ONG Holandesa. Significa ‘minha camisa legal’ na gíria do México. MiCamichula das aulas da estamparia/silkscreen de camisetas para jovens da periferia no Brasil. Atualmente os projetos continuam em Amsterdã na Holanda e nas comunidades Sampaio e Acari no Rio de Janeiro-Brasil.
No Rio de Janeiro a fundação também, tem colaboração com projetos locais,o de construir estúdios de serigrafia.
Com as oficinas criativas MiCamichula quer oferecer aos jovens uma alternativa e estimulá-lhes a desenvolver seus talentos. MiCamichula quer ajudar os jovens a se expressam e ensinar-lhes uma profissão, ajudando a desenvolver trabalho autônomos na sociedade. texto(martje prisman)
Mais informações no website: www.micamichula.org
Eu conehci essa galera da holanda,Na quadra da escola de samba Favo de Acari-RJ. Comunidade essa que frequentava semanalmente.Ficamos parceiros e amigos dessas "gringas" que fazem um trabalho brilhante estimulando uma nova visão das camunidades.
Me lembro uma vez que uma integrante da micamichula me contava sobre o precocneito e o estranhamento das pessoas com ela. por ela ir direto para as favelas no Rj.
Assim muitas vezes quando estava dentro do metrô pessoam preocupadas com a sua "integridade" diziam olha a "zona dul é pro outro lado"- área nobre da cidade. aqui vocês estão indo sentindo zona norte região suburbana.
Quando as mesmas diziam que iriam para Acari uma favela muito conehcida no RJ, as pessoas ficavam chocadas o que vai fazer lá? tu vai morrer. Sem exagero o tom da conversa era nesse sentido.
E quando diziam que tinham diversos amigoas lá, e que andavam tranquilamente pela favela e ainda realizavam trabalhos com as crianças da comunidade. a situação fugia do entendimento da maioria das pessoas que sempre pensam na favela com o sentido de morte, tiros etc.
Assim Martje, Crista, lisa,steef etc. Ensinam para pessoas daqui do Brasil uma importante lição que não existe fronteiras quando o assunto for sociabilização e se objetivo é ajudar e transformar a sociedade sejamos todos irmãos.Brancos, negros, brasileiros ou europeus.
Como cantou bob marley "vamos dar as mãos e cantar juntos somos todos um só coração"
abaixo um video que eu e o mano zeu fizemos de uma oficina em acari.
No Rio de Janeiro a fundação também, tem colaboração com projetos locais,o de construir estúdios de serigrafia.
Com as oficinas criativas MiCamichula quer oferecer aos jovens uma alternativa e estimulá-lhes a desenvolver seus talentos. MiCamichula quer ajudar os jovens a se expressam e ensinar-lhes uma profissão, ajudando a desenvolver trabalho autônomos na sociedade. texto(martje prisman)
Mais informações no website: www.micamichula.org
Eu conehci essa galera da holanda,Na quadra da escola de samba Favo de Acari-RJ. Comunidade essa que frequentava semanalmente.Ficamos parceiros e amigos dessas "gringas" que fazem um trabalho brilhante estimulando uma nova visão das camunidades.
Me lembro uma vez que uma integrante da micamichula me contava sobre o precocneito e o estranhamento das pessoas com ela. por ela ir direto para as favelas no Rj.
Assim muitas vezes quando estava dentro do metrô pessoam preocupadas com a sua "integridade" diziam olha a "zona dul é pro outro lado"- área nobre da cidade. aqui vocês estão indo sentindo zona norte região suburbana.
Quando as mesmas diziam que iriam para Acari uma favela muito conehcida no RJ, as pessoas ficavam chocadas o que vai fazer lá? tu vai morrer. Sem exagero o tom da conversa era nesse sentido.
E quando diziam que tinham diversos amigoas lá, e que andavam tranquilamente pela favela e ainda realizavam trabalhos com as crianças da comunidade. a situação fugia do entendimento da maioria das pessoas que sempre pensam na favela com o sentido de morte, tiros etc.
Assim Martje, Crista, lisa,steef etc. Ensinam para pessoas daqui do Brasil uma importante lição que não existe fronteiras quando o assunto for sociabilização e se objetivo é ajudar e transformar a sociedade sejamos todos irmãos.Brancos, negros, brasileiros ou europeus.
Como cantou bob marley "vamos dar as mãos e cantar juntos somos todos um só coração"
abaixo um video que eu e o mano zeu fizemos de uma oficina em acari.
segunda-feira, 22 de março de 2010
AO SEM-TERRA POR: MIRAN- MÚSICO DE 4 BARRAS-PR.
O HOMEM NASCE PARA VIDA,
PRA SER FELIZ E AMAR
NÃO SER RICO E NEM SER POBRE,
E A VELHICE ALCANÇAR
NÃOS SER MATADO E NEM SOFRIDO,
COMO CACHORRO FERIDO
PELAS ESTRADAS A VAGAR.
TODA MULHER É BONITA
TODO HOMEM É HONRADO
SEJA PRETO, SEJA BRANCO
SEJA ÍNDIO OU AMULATADO.
TODOS NÓS SOMOS BONITOS,
QUANDO NÃO SOMOS MALTRATADOS.
E SE DEUS FEZ
O CEÚ, A TERRA, O HOMEM
MUDOU DE NOME
O QUE CHAMOU DE FELICIDADE
POIS A IGUALDADE
NÃO TEVE ARPOVAÇÃO
PELA SANÇÃO
DOS QUE GANHAM DEMAIS
E SE O SILÊNCIO
TÁ NO NORTE OU TÁ NO SUL
EU ASSEGURO QUE É PRECISO DESPERTAR
PELA FÉ, NO DIREITO, PELA RAZÃO
E PELOS OLHOS
QUE CANSARAM DE OLHAR
COMPANHEIRAS CAMINHEIRAS
VAMOS ROMPER A MURALHA
QUANDO A ESTRADA É COMPRIDA
A GENTE FAZ UM ATALHO
VAMOS JUNTOS NESSA LUTA
QUE A TERRA É DEVOLUTA
A TERRA É DE QUEM TRABALHA
sábado, 20 de março de 2010
PO mano não dá mais vou voltar a trampar no paraguai.
PO, MANO NÃO DÁ MAIS, VOU VOLTAR A TRAMPAR NO PARAGUAI.
Foi com essa frase ontem a noite que fui surpreendido. Ao ligar pro meu parceiro de correria, militância, projetos e intervenções na cidade. Ele me disse com uma voz trêmula, sendo perceptível seu desânimo.
“po mano, não dá mais, vou voltar a trampar no Paraguai”.
Eu fiquei triste por que isso diagnosticou o que eu já sabia.
Que as coisas estão muito difíceis para ele. Quando o conheci no ano de 2007 ele sempre me relatará os perrengues que passará trabalhando por sete anos como vendedor no Paraguai.
Do trabalho escravo que fizera, das noites mal dormidas, do baixo salário e da humilhação freqüente que sofrerá do patrão.
A sua vida nesses sete anos sé resumira ao “trabalho”. A rotina era a seguinte, acordava as 04h30min da manhã, a Kombi da loja passava as 05h00min, ás 05h40min ele já estava lá do outro lado da fronteira.
Ás Seis começava o trabalho. No Paraguai muitas lojas te contratam como vendedor, mas na verdade você vai fazer muito mais que isso. Carregar e descarregar mercadorias, limpar a loja, e uma série de coisas atípicas.
Como receber treinamento para roubar clientes de outras lojas, andando até a loja concorrente e dizendo que a mercadoria dali não presta. Depois de um dia árduo de trabalho, fechava a loja às cinco da tarde. Atravessa a ponte da amizade a pé, entrava no ônibus e chegava Lá pelas sete horas em casa.
Ia Jantar e lá pelas 9h da noite dormia. No outro dia ás 04h30min da manhã recomeçara tudo de novo e, assim se prossegue de segunda á sábado.
A história desse jovem é como a maioria dos jovens da periferia de Foz. Sem oportunidades de um emprego na cidade. Vão vender sua força de trabalho no País vizinho. Não tendo os mínimos direitos trabalhistas assegurados. Sem carteira assinada, nem vale transporte, nem almoço.
Faz tudo isso para recebem uma mixaria com o salário de R$550 reais. No final das contas acaba ficando com o salário liquido de R$380 reais.
Entre outros empregos ele trabalhou no centro de Zoonoses, DJ e vendedor de DVD.
No centro de Zoonoses talvez tenha sido o melhor emprego. Tudo ia bem até que um dia, ele escreve um poema retratando algumas questões da cidade como o da epidemia da dengue, e das dificuldades cotidianas que sofrerá.
Seu poema foi selecionado para um jornal da prefeitura. Naquela ocasião o atual prefeito aparece para cumprimentá-lo,direcionando a ele um amigável aperto de mão.
Ele deixou o prefeito no vácuo. Honrosamente se negou apertar a mão de um sujeito que tanto fala e pouco faz. A sua magoa era muito grande com aquece sujeito, pois sua favela tinha sido removida e ele ficará agora longe dos antigos vizinhos e amigos.
Passado esse acontecimento, foi demitido sem receber muitos esclarecimentos.
Quando trabalho como DJ tocou em muitos bailes, boates e aniversários. Certa vez em um aniversário de 15 anos de uma moça, o pai que era o financiador da festa, pediu para que se colocassem cortinas que o tampavam. A justifica (se é que isso se justifica). Foi clara você não tem o “perfil” da festa.
Um jovem pardo, oriundo de periferia e com a camiseta do Racionais mc´s, não podia sair nas filmagens daquela festa. Após essa humilhação ele desistiu de tocar em festa principalmente de classe média. Dali para frente só tocou músicas de protestos, e nunca mais teve animo para prosseguir como DJ.
O trampo de vendedor de DVD Foi talvez o emprego que ele mais gostava . Ele andava pelos bairros da cidade, conversando com geral na rua e comercializando o material. Dessa forma ele tentará politizar muita gente, não vendia filmes que para ele atacava o seu povo. Assim muitos filmes de Hollywood não eram comercializados por esse humilde vendedor.
Ele substituirá Rambo, Pearl Harbor, entre outros clássicos de guerra por documentários e filmes com um sentido mais humanitário. Não vendia também nenhum filme pornô, nem filmes fascistas como o tropa de elite.
Tudo ia bem quando em uma operação em uma favela feita por policiais civis, ao arrombarem seu barraco prenderam todo seu material. Após ser chamado de criminoso por vender materiais piratas e tomar alguns cascudos da policia, foi liberado. Mas o prejuízo que tomara foi irreversível agravando ainda mais a sua crise econômica.
De lá para cá foram alguns meses de bicos, e de ajuda de parentes e de amigos. Certa vez ele até brincará que tava recebendo mais ajuda que ás vitima do Haiti.
Brincadeiras a parte, as dificuldades seguiram e se agravaram. Sem nenhuma possibilidade e escapatória. Agora nessa próxima segunda-feira ele retornará para aonde ele menos queria. Para a rotina desumana e cruel do trabalho informal do Paraguai.
Não terá mais tempo para escrever seus poemas, nem brincar com os sobrinhos e muito menos para continuar com seu trabalho social na cidade.
quinta-feira, 18 de março de 2010
quarta-feira, 17 de março de 2010
O QUE EU NÃO VENDO
EU NÃO VENDO UM BEIJO
NEM UM ABRAÇO
MUITO MENOS UM CARINHO
E NEM UM DESABAFO
MAS PARA SOBREVIVER
SOU OBRIGADO A VENDER
SOB PENA DE ME DESUMANIZAR
MINHA FORÇA DE TRABALHO
NEM UM ABRAÇO
MUITO MENOS UM CARINHO
E NEM UM DESABAFO
MAS PARA SOBREVIVER
SOU OBRIGADO A VENDER
SOB PENA DE ME DESUMANIZAR
MINHA FORÇA DE TRABALHO
segunda-feira, 15 de março de 2010
ADRIANO, A MÍDIA E A FAVELA
O jogador do Flamengo Adriano constantemente é alvo de manchetes e matérias polêmica.
Em sua maioria as matérias envolvem sua vida particular em torno de sua ida e vinda pela favela vila cruzeiro do complexo do alemão-RJ.
Em um teor preconceituoso a grande mídia sempre condena a relação do jogador com a favela.
Sempre insinuando a sua possível relação com o tráfico e o envolvimento com drogas.
Imprescindível nos grandes jornais como sempre se faz alusão das favelas como o “lugar” do tráfico de drogas.
Assim se reforça e justifica a barbárie cometida contra a classe pobre.
Mas Não precisamos ser muito inteligente pra saber que as maiorias das pessoas que residem nessas áreas periféricas são trabalhadoras.
Mas o que devemos nos perguntar é o por que o fato de uma figura carismática como o Adriano quando ele diz adorar a sua comunidade Vila cruzeiro incomoda tanto a rede globo e seus jornais filiados o Dia, o Globo, etc.
A situação é tão esquizofrênica que Adriano tem que justificar o que ele faz no lugar em que nasceu, cresceu e se enraizou criando laços de pertencimento com o seu lugar a sua favela.
Em entrevista a jornalista patrícia poeta no programa Fantástico da rede globo ao ser questionado sobre o que ele buscava na favela ele respondeu: Humildade, sinceridade força. Quando eu acho que tá tudo bem eu piso lá, vejo meu povo com tanto sofrimento e arranjando força,lutando e sorrindo...
Percebe-se nessa hora uma emoção de Adriano.
Não é a primeira vez que uma relação de um astro do futebol e sua relação com a favela gera polemica. No ano de 1994 o craque daquela seleção Romário foi muito contestado pela mídia, por ter ido comemorar o titulo mundial nas proximidades da favela de Acari-RJ.
Em minha opinião é uma atitude louvável uma pessoa reconhecer as suas origens. E de certa forma mostrar de que na favela há vida, amor, amizade,carinho,alegria como em qualquer outra parte da cidade.
E no caso de Adriano ainda mostra a face de um sujeito integro que reconhece seu passado e ainda senti com a dor de seus “irmãos” e sofre com as angústias de sua comunidade.
Não vejo como uma anomalia um sujeito que ficou famoso, milionário gostar da sua comunidade, do seu povo e de se sensibilizar com isso. Acho isso louvável.
Normal seria para jornalistas como Pedro Bial, Arnaldo Jabor, Ali Kamel entre tantos outros. Seguir a lógica individualista predominante na sociedade capitalista.
Para essa mentalidade profana o certo era ele esquecer seu povo, seu lugar e fazer como muitos. Fazer propaganda do PAC e defender a “pacificação” da policia nas favelas cariocas.Depois virar embaixador da “paz” no Haiti ou fazer propaganda pedindo doação ao criança esperança.Isso é o ideal para Rede globo e companhia.
O dinheiro tirou Adriano da miséria, mas ainda não conseguiu o tirar da favela.
Torço para que ele continue sendo lúcido, integro e ajude a elevar a auto-estima dessa comunidade que sofre ataques diários por essa mesma imprensa covarde.
No último domingo dia 14/03/2010. Adriano marcou um gol no maracanã em comemoração exibiu uma camiseta com a frase “deus perdoe essas pessoas ruins”.
Eu acho que eu sei a quem ele se referia.
Adriano só quer ser feliz e andar tranquilamente na favela em que nasceu.
sábado, 13 de março de 2010
Para uma mãe
VOCÊ ME ENSINOU A VÊ O LADO POSITIVO DA VIDA
A SENTIR AS COISAS DO CORAÇÃO COM SUA LEITURA ESPIRITA
AONDE VOCÊ ME ENSINOU A AMAR MEUS IRMÃOS
O REGINA!
TEU MENINO CRESCEU, AMADURECEU PEGOU UM SONHO E PARTIU
ENTREI NO ONIBUS E PARTI PRO RIO
NO ACARI E NO ESTADÃO, COM DELEY DESCOBRI UMA NOVA RAZÃO
DE LUTAR E TER COMPAIXÃO COM OS IRMÃOS
WESLEY, PINGO, GUELO É FASE DE REGENERAÇÃO
DIZ LÁ PRA REGINA QUE EU VOLTO
QUE SEU GURI NÃO FUGIU
SÓ QUIS SABER COMO É, QUAL É DESSE BRASIL
METEU O PÉ NO MUNDO E SUMIU
E HOJE DEPOIS DE TANTAS BATALHAS
TRAGO EM MINHA MALA GRANDES ESPERANÇAS
O SORRISO DAS CRIANÇAS É MINHA MEDALHA
HOJE TOU DE VOLTA NO INTERIOR DO PARANÁ
MAS NÃO SE ILUDA MINHA MÃE; POR QUE VOU NOVAMENTE VIAJAR
POR QUE O MUNDO É QUE É MEU LUGAR
POIS MEU ESPIRITO É AVENTUREIRO
E NÃO HÁ COMO DOMAR
A SENTIR AS COISAS DO CORAÇÃO COM SUA LEITURA ESPIRITA
AONDE VOCÊ ME ENSINOU A AMAR MEUS IRMÃOS
O REGINA!
TEU MENINO CRESCEU, AMADURECEU PEGOU UM SONHO E PARTIU
ENTREI NO ONIBUS E PARTI PRO RIO
NO ACARI E NO ESTADÃO, COM DELEY DESCOBRI UMA NOVA RAZÃO
DE LUTAR E TER COMPAIXÃO COM OS IRMÃOS
WESLEY, PINGO, GUELO É FASE DE REGENERAÇÃO
DIZ LÁ PRA REGINA QUE EU VOLTO
QUE SEU GURI NÃO FUGIU
SÓ QUIS SABER COMO É, QUAL É DESSE BRASIL
METEU O PÉ NO MUNDO E SUMIU
E HOJE DEPOIS DE TANTAS BATALHAS
TRAGO EM MINHA MALA GRANDES ESPERANÇAS
O SORRISO DAS CRIANÇAS É MINHA MEDALHA
HOJE TOU DE VOLTA NO INTERIOR DO PARANÁ
MAS NÃO SE ILUDA MINHA MÃE; POR QUE VOU NOVAMENTE VIAJAR
POR QUE O MUNDO É QUE É MEU LUGAR
POIS MEU ESPIRITO É AVENTUREIRO
E NÃO HÁ COMO DOMAR
META AMOR FASES
É FASES DE AMOR
AMOR COM META
METAMORFOSE
AMOR EM FOZ
NÃO HÁ NADA QUE EU NÃO FAÇA HOJE QUE NÃO TENHA AMOR
AMOR PELA CIDADE MUITAS FACES DE FOZ
AMOR PELA DOR
DOR DE TODOS, COMO SER FELIZ DIVIDINDO A DOR
AMOR CURA A DOR?
MAS QUEM CURA A DOR DO AMOR
NESSE TEMPO DE AMAR
QUE ME FEZ VOLTAR PRO INTERIOR DO PARANÁ
TENHO MUITO AMOR PARA MUDAR
PARA SONHAR, POIS QUERO REVOLUCIONAR
TENHO AMOR PARA ME POSICIONAR
E GRITAR BEM FORTE AS COISAS VÃO MUDAR
PARA MUDAR BASTA AMAR
POIS SEM AMOR NÃO TEM COMO NÃO TRANSFORMAR
ORA COM TANTO AMOR
SÓ SINTO VONTADE DE VIAJAR
PARA SEMEAR NO MUNDO O DOM DE AMAR
AMOR COM META
METAMORFOSE
AMOR EM FOZ
NÃO HÁ NADA QUE EU NÃO FAÇA HOJE QUE NÃO TENHA AMOR
AMOR PELA CIDADE MUITAS FACES DE FOZ
AMOR PELA DOR
DOR DE TODOS, COMO SER FELIZ DIVIDINDO A DOR
AMOR CURA A DOR?
MAS QUEM CURA A DOR DO AMOR
NESSE TEMPO DE AMAR
QUE ME FEZ VOLTAR PRO INTERIOR DO PARANÁ
TENHO MUITO AMOR PARA MUDAR
PARA SONHAR, POIS QUERO REVOLUCIONAR
TENHO AMOR PARA ME POSICIONAR
E GRITAR BEM FORTE AS COISAS VÃO MUDAR
PARA MUDAR BASTA AMAR
POIS SEM AMOR NÃO TEM COMO NÃO TRANSFORMAR
ORA COM TANTO AMOR
SÓ SINTO VONTADE DE VIAJAR
PARA SEMEAR NO MUNDO O DOM DE AMAR
POEMA DEDICADO HÁ UMA MULHER: POR Deley de acari
Sem você, ainda somos flor, com vocês somos o jardim,
Sem você ainda somos arvore, com você somos a floresta,
Sem você ainda somos glóbulo, com você somos o sangue,
Sem você ainda somos gota, com você somos o oceano.
Sem você ainda somos trigo, com você somos o pão partilhado
nos fazendo companheiros e companheiras,
Sem você ainda somos uva, com você somos vinho que nos nutre, nos fortalece, nos purifica e amplia nossa lucides e faz transparente nossa amizade.
Sem você, ainda somos a espera, com você somos a esperança,
Sem você, ainda somos lágrima, com você somos o choro de alegria.
Sem você, ainda somos dedos, com você somos nossas mãos dadas.
Sem você, ainda somos pessoas, com você somos a humanidade.
Sem você, ainda somos o afeto, com você somos a ternura revolucionária guevariana.
Sem você ainda somos pulso sem algema, com você somos a liberdade conquistada.
Sem você, ainda somos negra, com você somos a mãe África e a diáspora que se faz libertação,
Sem vocês ainda somos mulher, com você somos todas as criaturas humanas para além dos sexos, para além dos gêneros...
que nos livramos do cativeiro do machismo, do sexismo, que nos oprime, nos desumaniza nos faz escravo do poder patriarcal.
Sem você ainda somos calma, com você somos a Paz que a humanidade tanta precisa,
Sem você, um homem ainda é um homem, com você um homem é uma criatura nova que, nutrido pelo seu amor, se faz um ser gentil, um homem simplesmente homem, não-macho, não sexista, não dominador.
Sem você um homem ainda é um homem, com você um homem é amante, amigo, irmão, sempre contigo... nunca a sua frente, nunca a suas costas, nunca ao seu lado... mas sim sempre com você.
Sem você um homem um homem ainda é um homem, pouco mais que uma pessoa solitária, com você um homem é todo amante, companheiro terno, carinhoso, generoso... cumplice cotidiano e perene do seu eu mulher em constante libertação.
Sem você ainda somos arvore, com você somos a floresta,
Sem você ainda somos glóbulo, com você somos o sangue,
Sem você ainda somos gota, com você somos o oceano.
Sem você ainda somos trigo, com você somos o pão partilhado
nos fazendo companheiros e companheiras,
Sem você ainda somos uva, com você somos vinho que nos nutre, nos fortalece, nos purifica e amplia nossa lucides e faz transparente nossa amizade.
Sem você, ainda somos a espera, com você somos a esperança,
Sem você, ainda somos lágrima, com você somos o choro de alegria.
Sem você, ainda somos dedos, com você somos nossas mãos dadas.
Sem você, ainda somos pessoas, com você somos a humanidade.
Sem você, ainda somos o afeto, com você somos a ternura revolucionária guevariana.
Sem você ainda somos pulso sem algema, com você somos a liberdade conquistada.
Sem você, ainda somos negra, com você somos a mãe África e a diáspora que se faz libertação,
Sem vocês ainda somos mulher, com você somos todas as criaturas humanas para além dos sexos, para além dos gêneros...
que nos livramos do cativeiro do machismo, do sexismo, que nos oprime, nos desumaniza nos faz escravo do poder patriarcal.
Sem você ainda somos calma, com você somos a Paz que a humanidade tanta precisa,
Sem você, um homem ainda é um homem, com você um homem é uma criatura nova que, nutrido pelo seu amor, se faz um ser gentil, um homem simplesmente homem, não-macho, não sexista, não dominador.
Sem você um homem ainda é um homem, com você um homem é amante, amigo, irmão, sempre contigo... nunca a sua frente, nunca a suas costas, nunca ao seu lado... mas sim sempre com você.
Sem você um homem um homem ainda é um homem, pouco mais que uma pessoa solitária, com você um homem é todo amante, companheiro terno, carinhoso, generoso... cumplice cotidiano e perene do seu eu mulher em constante libertação.
CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS
Vida nossa de todos os dias
Anísio era mais um criança que cresceu sonhadora, essa era a principal forma de manifestação de uma criança suja de terra que vivia entre brinquedos de plástico, árvores, tijolos e cachorros de estimação num quintal de uma casa humilde nos idos dos anos 80 na região periférica do PORTO-MEIRA em Foz do Iguaçu. Anísio não sofria simplesmente pelo fato de ter sido criado em uma favela que não contava com posto de saúde, água encanada e espaços de lazer, sofria também pela sua nacionalidade; era zoado na escola por ser de família Paraguaia, assim teve uma vivência cheia de conflitos. No colegial se sentava no fundo da sala de aula por ter vergonha da sua nacionalidade e de seu tênis encardido e da barba precoce e de não poder freqüentar as mesmas festas e namorar as mesmas meninas que a maioria dos seus colegas almejavam. Sonhar se tornara uma necessidade maior quando seu pai então Missionário falecera e deixara com Anísio uma grande responsabilidade: o de sobreviver com mais quatro irmãos naquela vida dura, assim ele trabalhou com jardinagem podando e regando plantas na casa de bacanas, mas ele queria algo mais para a sua vida do que ficar juntando folhas secas, e mais uma vez recomeçara a sonhar. Carregava em sua memória as histórias contadas pelo pai missionário, visualizando as experiências de viagens vividas por ele.
Toda vez que Anísio andava com sua bicicleta Barra forte pelas ruas embarradas do PORTO-MEIRA, sonhava que estava viajando pela América-latina e prometia para si mesmo que um dia realizaria seu sonho, quando dizia aos amigos que queria conhecer melhor países como Paraguai, Venezuela, Cuba, mais uma vez era vitima de piadas e chacotas, pois os outros sonhavam com o EUA, Paris, Alemanha “paises desenvolvidos” de cultura dominante e achavam que esses paises não possuíssem nada de interessante. O tempo passou e sua paixão pela cultura sul-americana se aflorou ainda mais, assim começou a cursar História querendo estudar os incas, astecas, maias, mas, para sua infelicidade a matéria de América só seria trabalhada no terceiro período, assim ficara frustrado mas, mais uma vez começou a sonhar com o contato com o povo latino e foi seguindo em frente. Durante a graduação discutiu ferrenhamente com os professores da universidade para que a guerra do Paraguai fosse vista de outra maneira, que não fosse reproduzida a historia oficial Brasileira, pois por ele pertencer a uma família paraguaia sabia como ninguém como aquela guerra foi cruel e covarde, lutou mais uma vez para que os historiadores revissem a historiografia e buscassem uma outra realidade para a historia do povo latino-Americano, infelizmente ele não conseguiu, mas hoje se orgulha por ter conseguido mudar a sua própria realidade.
Seu grande patrimônio acumulado fora um monte de livros do seu autor preferido Eduardo Galeano, um violão e diversos discos de Mercedes Sosa, Violeta Parra, e o som dos músicos cubanos do Buena Vista Social Club, após terminar sua graduação teve dois diplomas: o de historiador e o de ter conquistado amizades sinceras em seu tempo de faculdade, entre elas a de Rosa, uma professora também apaixonada pela América – Latina que se sensibilizou com aquele jovem que passava muita dificuldade e levava os estudos tão a sério, e sonhava simplesmente em ser um viajante. Assim Rosa começara a dar força para que Anísio investisse em seu sonho e começasse a viajar pelos paises próximos de Foz do Iguaçu (Paraguai e Argentina) ao iniciar sua trajetória pelo Paraguai ele encontrou sua identidade, conseguiu ver o que o seu pai o dissera: um pais agrário pouco moderno, com um povo fanático pela música Brasileira, e muito receptivo.
Anísio andou pelas praças, freqüentou as populares feiras, se banhou nas águas cristalinas das cachoeiras Paraguaias, se hospedou na casa de diversas famílias e lembrou o quanto fora tirado, zoado por seus amigos que viam naquele País uma barbárie. Ao retornar emocionado e com a alma satisfeita pela grande experiência, sentindo que seu sonho começara a se realizar, dizia para os amigos debochados: “não vão ao Paraguai lá não tem nada de mais”.
Assim ele guarda as belas fotografias e as boas historias para os quem ele julgue que sejam merecedores de ouvi-las, pois ele aprendera que o que a vida lhe traria de melhor fora os sonhos sonhados e compartilhados com os amigos verdadeiros, sinceros e eternos como Rosa. Dessa maneira Anísio soube avaliar que sonhar coletivamente é sonhar ainda melhor.
FUNK É RAP?
No ano passado o percussor do movimento Hip-Hop Afrika Bambata em visita a Rocinha - maior favela da América latina - deu a seguinte declaração: “A batida do funk é hip-hop, o hip-hop do Brasil tem que agregar o funk como quinto elemento”. A frase de Bambata repercutiu muito no movimento Hip-Hop, e parece ter causado estranhamento aos manos naquele momento. Eu estava em Foz do Iguaçu-PR quando encontrei meu amigo e irmão de hospício, militante do coletivo Cartel do Rap, Mano Zeu de sobrancelha baixa, lendo a revista Rap Brasil e preocupado com a fala de Bambata, naquela ocasião ele deu a seguinte opinião “o que é isso aqui mano, funk virar hip-hop, não vai rolar”.
Para mim essa idéia também não se sustentava, na minha visão como é que o Funk que se apresentava como uma música de curtição ia se misturar com o Rap uma música que bate de frente e denuncia às mazelas sociais. Mas passado alguns meses eu e Zeu viemos fazer um curso de formação de Agentes Culturais Populares no Rio de Janeiro e lá descobrimos que também há funk’s de protestos, uma música que também retrata a vivencia e sobrevivência da periferia, e que pautam uma série de noções reivindicatórias para essa classe periférica. Assim conhecemos um outro tipo de Funk que não é o que é vinculado pela grande mídia, não é o que vende milhões e nem será encontrado com a mesma facilidade nas lojas de discos e shoppings. Esse Funk mais politizado tem uma proporção muito menor ao funk estilo “cachorrão” que toca diariamente nas rádios e movimentam as baladas e boates em Foz do Iguaçu. Assim percebi que nossa visão sobre o Funk foi modificada, e de que na verdade vimos o
Funk num sentido único e homogêneo não conhecíamos outro tipo de Funk e pensávamos que nesse gênero predominava a música para festa, agitação e curtição. Tive a oportunidade de conhecer o outro lado da moeda do Funk, o que hoje me agrada muito, o Funk com um caráter reivindicatório que aparece como uma forte expressão daquela parte da cidade que é constantemente criminalizada.
Sabendo que há muito preconceito desse gênero por parte de pessoas ligadas ao Hip-Hop e que muitos vêem no Funk um caminho de mão única, a música com batida contagiante e com pouco conteúdo, e nomes como Bonde do Tigrão, Tati Quebra Barraco, MC Creu, entre outros, vêm sempre a mente, parece que esses são os artistas frente ao movimento e nomes como Cidinho e Doca, Mascote entre outros foram apagados e silenciados da nossa memória. Resolvi apresentar aqui um outro Funk rompendo com essa modinha de mulher fruta que aparece diariamente na televisão.
Dessa forma selecionei três letras para repensarmos o Funk Carioca e fazer uma discussão se o Funk é Hip-Hop ou não. A primeira música é do MC pingo do grupo Força do Rap do complexo de Acari e diz assim:
“Quem é você para falar dos meus erros, tu não me conhece não sabe quem sou / a luta que tive, a fome que minha família passou / aonde tava você na hora do perrengue, porque você não tava lá seu doutor? / a sociedade hoje fala de mim mais ninguém me ajudou\ todo mundo fala que eu ando armado, ninguém fala que já tentou me matar / o tempo que o rodo subia o morro pra assassinar / e eu na favela botando o terror para matar os moleque pegar o dinheiro / desculpa doutor para chorar minha mãe chora a deles primeiro / Lá no morro o barraco na chuva descia, mamãe lavadeira trabalha em casa de família / papai desempregado piorava a situação, alcoolizado na rua sempre de agressão / Não
tive chance pois não nasci herdeiro não, só fiz o que achei certo peço a Deus o perdão / é assim que o moleque dizia, é assim que o moleque falava / no beco de uma favela pra um repórter que o entrevistava”.
A música retrata a vida de um jovem da periferia Carioca, mostrando desde as principais dificuldades como a fome até a desestrutura familiar com o pai alcoólatra e a mãe que trabalha fora, lavando roupa para a família da classe média. No decorrer da canção até a chacina e violência policial são questionados assim como a condição de moradia precária, entre uma gama de sentidos narrados pela experiência de muitos jovens oriundos da periferia, a música ainda revela um diálogo entre um repórter e um moleque favelado que desabafa: “não tive chance, não nasci herdeiro, só fiz o que eu achei certo”, revelando uma vida desregrada que culminou no seu envolvimento com o crime.
Agora vamos pegar o segundo exemplo, o do Mc Bacardi, morador da Cidade de Deus.
“ Mas a política que tem aqui parece feita para não me defender / se for pretinho não tem caô na saída leva uma geral / se não tiver nada, mas se eles cisma fala pra ir embora ou me dá um pau / eu já não agüento, tanto tormento eu não to conseguindo viver / quero a paz tranqüilidade andar na fé CDD / vejo muitas crianças aqui sofrer por que não tem nada para se ocupar / nem projeto e alimentação e escola para estudar / será assim que vai melhorar estão deixando nossas crianças em vão / mãe me desculpa a decepção hoje seu filho virou ladrão / eu fico triste abaixo a cabeça e logo começo a pensar / se no meu futuro Deus vai me ajudar por que meu filho eu pretendo criar / Perdi vários manos estou boladão, tenho certeza que não vão mais voltar / descanse em paz todos amigos que estão nesse lugar / mano Menor, mano Gu, não esqueço do
Cabeção/ do Alex, Zequinha e do Negão / Fico por aqui deixo um abraço para todos negros do Brasil / Djavan, Toni Garrido e meu mano Mv Bill / Eu sou negro, eu sou negro sim / tenho orgulho de onde moro e também tenho orgulho de mim / sou funkeiro, sou funkeiro sim / tenho orgulho de onde moro e também tenho orgulho de mim / Sou favela, sou favela sim / tenho orgulho de onde moro e também tenho orgulho de mim”.
A música de Bacardi tem um traço de pertencimento e de amor com o seu lugar, apesar das dificuldades e do descaso do governo perante os moradores da periferia, esse orgulho e afirmação de ser negro e favelado é algo muito cantando e representado também no Rap. A linguagem é muito comum ao Rap quando ele narra os Manos da CDD que se foram, aqui podemos perceber que esse Funk não está nem um pouco distante do Rap, a mensagem caminha num sentido de desabafo aonde um morador percebe a vitimização de seus irmão e do envolvimento de crianças com o crime, e se preocupa com o seu futuro, “como meu filho será criado nesse meio”.
A última canção escolhida é da dupla Mc Junior e Leonardo da rocinha e diz assim:
“Comunidade que vive a vontade com mais liberdade tem mais para colher / pois alguns caminhos para a felicidade são paz, cultura e lazer / comunidade que vive acuada tomando porrada de todos os lados / fica mais longe da tal esperança, os menor vão crescendo tudo revoltado / Não se combate crime organizado mandando blindado para beco e viela / pois só gera mais ira, para os que moram dentro da favela / Sou favelado e exijo respeito, são meus direitos que peço aqui / pé na porta sem mandado, tem que ser condenado não pode existir / Mãe sem emprego, filho sem escola, é o ciclo que rola naquele lugar / são milhares de histórias, que no fim são as mesmas podem reparar / Sinceramente eu não tenho a saída, como
devia o tal ciclo parar / mas do jeito que estão nos tratando só tão ajudando esse mal se alastrar / morre policia, morre vagabundo e no mesmo segundo outro vem para ocupar / o lugar daquele que um dia se foi, depois geral deixa para lá / agora amigo o papo é contigo, só um aviso para finalizar / o futuro da favela depende do fruto que você vai plantar / Refrão: Ta tudo errado, até difícil de explicar / do jeito que a coisa ta indo já passou a hora do bicho pegar / ta tudo errado, difícil entender também / tem gente plantando o mal querendo colher o bem”.
Nessa musica á o sentido de reivindicação da liberdade para os favelados, a palavra favela é constantemente repetida nos versos, a idéia do ciclo vicioso perverso que envolve o dia a dia da periferia e deságua no sofrimento e deterioramento da classe pobre culminando no extermínio de vidas. A violência do Estado é completamente combatida nessa música, fazendo menção que a única participação do estado na favela é pela força policial, e que isso só ajuda as coisas piorarem, trazendo a revolta e dor aos moradores da periferia.
Pegando esses três exemplos vemos que seguindo essa linha de Funk e se compararmos com a letra do Rap combativo, (lembrando que há muito rap comercial também), vemos que tem uma grande semelhança, uma narrativa que caminha num sentido par com o Rap e que aparece como forte expressão da juventude favelada brasileira. Questões que parecem ser pontuais no Rap como violência, desemprego, pobreza, falta de opção para a juventude favelada, preconceito, descaso do governo, violência policial, assim parece que tanto o Funk como o Rap diagnosticam e denunciam os mesmos problemas e revelam a adversidade diária de morar na favela.
Quando Bambata diz que Rap é Funk originalmente ele disse isso pela batida, mas creio que o Rap e Funk se aproximam não somente pela batida, mas pela própria origem do movimento, as letras, rimas, os atores sociais são da mesma procedência e carregam consigo o mesmo drama da exclusão social, do afastamento, preconceito e da barbárie.
Vejo o movimento Funk como mais uma voz da periferia e também como uma grande possibilidade de transgressão dessa sociedade desigual e que age como um forte multiplicador de vários sentidos e significados que mapeiam a experiência periférica, assim penso e reflito: será que o Funk é Rap ou Rap é Funk?
somos todos funkeiros!!
Para mim essa idéia também não se sustentava, na minha visão como é que o Funk que se apresentava como uma música de curtição ia se misturar com o Rap uma música que bate de frente e denuncia às mazelas sociais. Mas passado alguns meses eu e Zeu viemos fazer um curso de formação de Agentes Culturais Populares no Rio de Janeiro e lá descobrimos que também há funk’s de protestos, uma música que também retrata a vivencia e sobrevivência da periferia, e que pautam uma série de noções reivindicatórias para essa classe periférica. Assim conhecemos um outro tipo de Funk que não é o que é vinculado pela grande mídia, não é o que vende milhões e nem será encontrado com a mesma facilidade nas lojas de discos e shoppings. Esse Funk mais politizado tem uma proporção muito menor ao funk estilo “cachorrão” que toca diariamente nas rádios e movimentam as baladas e boates em Foz do Iguaçu. Assim percebi que nossa visão sobre o Funk foi modificada, e de que na verdade vimos o
Funk num sentido único e homogêneo não conhecíamos outro tipo de Funk e pensávamos que nesse gênero predominava a música para festa, agitação e curtição. Tive a oportunidade de conhecer o outro lado da moeda do Funk, o que hoje me agrada muito, o Funk com um caráter reivindicatório que aparece como uma forte expressão daquela parte da cidade que é constantemente criminalizada.
Sabendo que há muito preconceito desse gênero por parte de pessoas ligadas ao Hip-Hop e que muitos vêem no Funk um caminho de mão única, a música com batida contagiante e com pouco conteúdo, e nomes como Bonde do Tigrão, Tati Quebra Barraco, MC Creu, entre outros, vêm sempre a mente, parece que esses são os artistas frente ao movimento e nomes como Cidinho e Doca, Mascote entre outros foram apagados e silenciados da nossa memória. Resolvi apresentar aqui um outro Funk rompendo com essa modinha de mulher fruta que aparece diariamente na televisão.
Dessa forma selecionei três letras para repensarmos o Funk Carioca e fazer uma discussão se o Funk é Hip-Hop ou não. A primeira música é do MC pingo do grupo Força do Rap do complexo de Acari e diz assim:
“Quem é você para falar dos meus erros, tu não me conhece não sabe quem sou / a luta que tive, a fome que minha família passou / aonde tava você na hora do perrengue, porque você não tava lá seu doutor? / a sociedade hoje fala de mim mais ninguém me ajudou\ todo mundo fala que eu ando armado, ninguém fala que já tentou me matar / o tempo que o rodo subia o morro pra assassinar / e eu na favela botando o terror para matar os moleque pegar o dinheiro / desculpa doutor para chorar minha mãe chora a deles primeiro / Lá no morro o barraco na chuva descia, mamãe lavadeira trabalha em casa de família / papai desempregado piorava a situação, alcoolizado na rua sempre de agressão / Não
tive chance pois não nasci herdeiro não, só fiz o que achei certo peço a Deus o perdão / é assim que o moleque dizia, é assim que o moleque falava / no beco de uma favela pra um repórter que o entrevistava”.
A música retrata a vida de um jovem da periferia Carioca, mostrando desde as principais dificuldades como a fome até a desestrutura familiar com o pai alcoólatra e a mãe que trabalha fora, lavando roupa para a família da classe média. No decorrer da canção até a chacina e violência policial são questionados assim como a condição de moradia precária, entre uma gama de sentidos narrados pela experiência de muitos jovens oriundos da periferia, a música ainda revela um diálogo entre um repórter e um moleque favelado que desabafa: “não tive chance, não nasci herdeiro, só fiz o que eu achei certo”, revelando uma vida desregrada que culminou no seu envolvimento com o crime.
Agora vamos pegar o segundo exemplo, o do Mc Bacardi, morador da Cidade de Deus.
“ Mas a política que tem aqui parece feita para não me defender / se for pretinho não tem caô na saída leva uma geral / se não tiver nada, mas se eles cisma fala pra ir embora ou me dá um pau / eu já não agüento, tanto tormento eu não to conseguindo viver / quero a paz tranqüilidade andar na fé CDD / vejo muitas crianças aqui sofrer por que não tem nada para se ocupar / nem projeto e alimentação e escola para estudar / será assim que vai melhorar estão deixando nossas crianças em vão / mãe me desculpa a decepção hoje seu filho virou ladrão / eu fico triste abaixo a cabeça e logo começo a pensar / se no meu futuro Deus vai me ajudar por que meu filho eu pretendo criar / Perdi vários manos estou boladão, tenho certeza que não vão mais voltar / descanse em paz todos amigos que estão nesse lugar / mano Menor, mano Gu, não esqueço do
Cabeção/ do Alex, Zequinha e do Negão / Fico por aqui deixo um abraço para todos negros do Brasil / Djavan, Toni Garrido e meu mano Mv Bill / Eu sou negro, eu sou negro sim / tenho orgulho de onde moro e também tenho orgulho de mim / sou funkeiro, sou funkeiro sim / tenho orgulho de onde moro e também tenho orgulho de mim / Sou favela, sou favela sim / tenho orgulho de onde moro e também tenho orgulho de mim”.
A música de Bacardi tem um traço de pertencimento e de amor com o seu lugar, apesar das dificuldades e do descaso do governo perante os moradores da periferia, esse orgulho e afirmação de ser negro e favelado é algo muito cantando e representado também no Rap. A linguagem é muito comum ao Rap quando ele narra os Manos da CDD que se foram, aqui podemos perceber que esse Funk não está nem um pouco distante do Rap, a mensagem caminha num sentido de desabafo aonde um morador percebe a vitimização de seus irmão e do envolvimento de crianças com o crime, e se preocupa com o seu futuro, “como meu filho será criado nesse meio”.
A última canção escolhida é da dupla Mc Junior e Leonardo da rocinha e diz assim:
“Comunidade que vive a vontade com mais liberdade tem mais para colher / pois alguns caminhos para a felicidade são paz, cultura e lazer / comunidade que vive acuada tomando porrada de todos os lados / fica mais longe da tal esperança, os menor vão crescendo tudo revoltado / Não se combate crime organizado mandando blindado para beco e viela / pois só gera mais ira, para os que moram dentro da favela / Sou favelado e exijo respeito, são meus direitos que peço aqui / pé na porta sem mandado, tem que ser condenado não pode existir / Mãe sem emprego, filho sem escola, é o ciclo que rola naquele lugar / são milhares de histórias, que no fim são as mesmas podem reparar / Sinceramente eu não tenho a saída, como
devia o tal ciclo parar / mas do jeito que estão nos tratando só tão ajudando esse mal se alastrar / morre policia, morre vagabundo e no mesmo segundo outro vem para ocupar / o lugar daquele que um dia se foi, depois geral deixa para lá / agora amigo o papo é contigo, só um aviso para finalizar / o futuro da favela depende do fruto que você vai plantar / Refrão: Ta tudo errado, até difícil de explicar / do jeito que a coisa ta indo já passou a hora do bicho pegar / ta tudo errado, difícil entender também / tem gente plantando o mal querendo colher o bem”.
Nessa musica á o sentido de reivindicação da liberdade para os favelados, a palavra favela é constantemente repetida nos versos, a idéia do ciclo vicioso perverso que envolve o dia a dia da periferia e deságua no sofrimento e deterioramento da classe pobre culminando no extermínio de vidas. A violência do Estado é completamente combatida nessa música, fazendo menção que a única participação do estado na favela é pela força policial, e que isso só ajuda as coisas piorarem, trazendo a revolta e dor aos moradores da periferia.
Pegando esses três exemplos vemos que seguindo essa linha de Funk e se compararmos com a letra do Rap combativo, (lembrando que há muito rap comercial também), vemos que tem uma grande semelhança, uma narrativa que caminha num sentido par com o Rap e que aparece como forte expressão da juventude favelada brasileira. Questões que parecem ser pontuais no Rap como violência, desemprego, pobreza, falta de opção para a juventude favelada, preconceito, descaso do governo, violência policial, assim parece que tanto o Funk como o Rap diagnosticam e denunciam os mesmos problemas e revelam a adversidade diária de morar na favela.
Quando Bambata diz que Rap é Funk originalmente ele disse isso pela batida, mas creio que o Rap e Funk se aproximam não somente pela batida, mas pela própria origem do movimento, as letras, rimas, os atores sociais são da mesma procedência e carregam consigo o mesmo drama da exclusão social, do afastamento, preconceito e da barbárie.
Vejo o movimento Funk como mais uma voz da periferia e também como uma grande possibilidade de transgressão dessa sociedade desigual e que age como um forte multiplicador de vários sentidos e significados que mapeiam a experiência periférica, assim penso e reflito: será que o Funk é Rap ou Rap é Funk?
somos todos funkeiros!!
A dor de um escrivinhador
Escrever é o ato de representar pensamentos por meios de caracteres. Posso dizer que minha escrita é o ato de representar o sofrimento.
Quando escrevo procuro desabafar, denunciar e de clamar por direitos. Principalmente através das crônicas que narram acontecimentos verídicos.
Como sabem a verdade costuma doer. Por isso essa escrita muitas vezes não é bem digerida por quem lê.
No mês de dezembro publiquei uma crônica sobre uma amiga que reside na favela da Maré-RJ.Escrevi suas angústias e desabafos da qual conversávamos muito. Por motivos éticos inventei um nome fictício para ela. Transformando em personagem de “literatura”.
Essa crônica foi publicada no blog do fanzine cartel do rap. Algumas pessoas conhecidas quando leram aquela história identificaram a personagem.
E perguntavam aquela menina não é tal pessoa, eu disse sim.
Obviamente essa pessoa ficou sabendo e pediu para que eu mandasse a crônica para que ela pudesse lê sua própria história.
Na hora senti um pouco de receio. É difícil contar a história da vida de alguém, ainda mais quando é uma história de luta e sofrimento. Senti receio em ter lhe exposto demais.
Mandei por email e esperei a resposta ansioso. Nem fechei a janela do email. Depois de uns 15 minutos ela respondeu:
É bem eu mesmo, crítica e revoltada essa crônica!!! Muito boa!!! Parabéns, vc é um ótimo escritor!!! Rsrsrs
bom, as coisas lá na Maré...vão navegando, como sempre, aquela "guerra"absurda acabou, agora tem as ameaças de invasão, todos os dias ouvimos isso...
e por causa de tantos tiros, tantas mortes que eu vi, de tanta dor que sente e ainda sinto vendo tanto desrespeito ao nosso povo...fiquei bem mal nesse final de ano..fiquei com muitas dúvidas, muitas incertezas, muito revoltada com tanta gente má, coim tanta gente que tem um discursos bomzinho, mas que por trás, é falso, enganoso...fiquei abatida tb com tudo que aconteceu na Maré, perdi muitos amigos, vizinhos etc...
e fique tranquilo, que essas coisas é p gente desabafar mesmo, jogar p fora, p mundo vê tudo aquilo q a gente sofre e sente na pele todos os dias...continue escrevendo, cantando, conversando, pois estas são tb grande maneiras da gente colocar p fora a nossa dor...
Que Deus te abençõe e sempre te dê muita força, continuemos sempre na luta..e conto com vcs para a tão sonhada revolução...a gente cansa, hj me sinto um pouco cansada, mas nunca a minha força, a nossa força será apagada!!!
Viva a Revoluao, viva a luta do povo!!! rs
Ao lê essa mensagem fiquei um tanto aliviado. Fui bem compreendido. E ainda recebi uma mensagem de força, de uma pessoa tão forte. Me senti acalentado por essas palavras e vou continuar escrevinhando sobre a vida.
Escrevendo sobre a dor dos outros vou aprendendo a resistir e a seguir em frente. Com a minha própria dor de ser gente.
Quando escrevo procuro desabafar, denunciar e de clamar por direitos. Principalmente através das crônicas que narram acontecimentos verídicos.
Como sabem a verdade costuma doer. Por isso essa escrita muitas vezes não é bem digerida por quem lê.
No mês de dezembro publiquei uma crônica sobre uma amiga que reside na favela da Maré-RJ.Escrevi suas angústias e desabafos da qual conversávamos muito. Por motivos éticos inventei um nome fictício para ela. Transformando em personagem de “literatura”.
Essa crônica foi publicada no blog do fanzine cartel do rap. Algumas pessoas conhecidas quando leram aquela história identificaram a personagem.
E perguntavam aquela menina não é tal pessoa, eu disse sim.
Obviamente essa pessoa ficou sabendo e pediu para que eu mandasse a crônica para que ela pudesse lê sua própria história.
Na hora senti um pouco de receio. É difícil contar a história da vida de alguém, ainda mais quando é uma história de luta e sofrimento. Senti receio em ter lhe exposto demais.
Mandei por email e esperei a resposta ansioso. Nem fechei a janela do email. Depois de uns 15 minutos ela respondeu:
É bem eu mesmo, crítica e revoltada essa crônica!!! Muito boa!!! Parabéns, vc é um ótimo escritor!!! Rsrsrs
bom, as coisas lá na Maré...vão navegando, como sempre, aquela "guerra"absurda acabou, agora tem as ameaças de invasão, todos os dias ouvimos isso...
e por causa de tantos tiros, tantas mortes que eu vi, de tanta dor que sente e ainda sinto vendo tanto desrespeito ao nosso povo...fiquei bem mal nesse final de ano..fiquei com muitas dúvidas, muitas incertezas, muito revoltada com tanta gente má, coim tanta gente que tem um discursos bomzinho, mas que por trás, é falso, enganoso...fiquei abatida tb com tudo que aconteceu na Maré, perdi muitos amigos, vizinhos etc...
e fique tranquilo, que essas coisas é p gente desabafar mesmo, jogar p fora, p mundo vê tudo aquilo q a gente sofre e sente na pele todos os dias...continue escrevendo, cantando, conversando, pois estas são tb grande maneiras da gente colocar p fora a nossa dor...
Que Deus te abençõe e sempre te dê muita força, continuemos sempre na luta..e conto com vcs para a tão sonhada revolução...a gente cansa, hj me sinto um pouco cansada, mas nunca a minha força, a nossa força será apagada!!!
Viva a Revoluao, viva a luta do povo!!! rs
Ao lê essa mensagem fiquei um tanto aliviado. Fui bem compreendido. E ainda recebi uma mensagem de força, de uma pessoa tão forte. Me senti acalentado por essas palavras e vou continuar escrevinhando sobre a vida.
Escrevendo sobre a dor dos outros vou aprendendo a resistir e a seguir em frente. Com a minha própria dor de ser gente.
cronica grazieli
Vida nossa de todos os dias
Graziele é uma moça aparentemente frágil. SeuS 1,60m e seus 44 kg, escondem uma fortaleza de pessoa. A vida áspera que herdou da herança de ser pobre, a criação severa que obteve, e a violência social transformou essa menina em uma pessoa forte. Sempre observou o cotidiano da favela da Maré, e demorou a entender como um povo tão sofrido insistia em sorrir. Pois percebia que seus únicos direitos garantidos pela sociedade burguesa era o de sofrer e amar a Deus. E entendeu que seu pai cresceu entre a cruz e a espada por ter podido estudar só até a 4ª série primária. Buscou estudar, conseguiu com muito sacrifico uma bolsa de estudos e financiar um curso de jornalismo em uma das escolas mais tradicionais do Rio de Janeiro.
Ela aprendeu desde cedo a não abaixar a cabeça, a olhar nos olhos das pessoas e mandar o papo reto. Seu primeiro dia de aula se apresentou a turma e se posicionou como favelada, e disse em bom tom: “Moro na favela da Maré na comunidade Mandacaru, estou aqui por uma bolsa financiada, meu objetivo como jornalista é escrever a voz da minha comunidade, pois estou cansada em ver e ouvir o que esses shownarlistas escrevem”. “Não acho que só a favela da Maré deve mudar, a mudança tem que ocorrer em toda parte da cidade, ou na zona sul não há problemas?”. Alguns alunos se assustaram, outras fizeram cara de deboche, e desde então ela causa estranhamento na turma. Suas opiniões e posições costumam ser contrárias a da maioria das pessoas, que reforçam a lógica de criminalização da pobreza. Muitos da turma ainda não se conformaram em ter que dividir a sala com uma favelada.
O jeito simples de Graziele,causa asco nas patricinhas da Gávea, que por costume repudiam quem repete a mesma roupa. Mesmo num ambiente desfavorável, ela conquistou alguns professores progressistas e na turma de 40 alunos, conseguiu a amizade de duas meninas que tiveram sensibilidade para aprender e entender coisas com Graziele que a universidade não ensina. Mas o debate na faculdade é pouco, perto da sua luta particular; pois Graziele se sente discriminada até pelos movimentos sociais da esquerda. Quando ela chega em reuniões e atos, vê um monte de intelectuais acadêmicos falarem de hegemonia e contra-hegemonia , dizerem que a tão classe subalterna ainda não atingiu a consciência. Mas ela não vê aqueles intelectuais pisarem em favelas, ocupações urbanas, muitos não aparecem nem para prestar solidariedade em atos de protesto contra a violência do Estado nessas comunidades.
Quando sai dessas reuniões seu desespero aumenta pois vê que os movimentos sociais estão abarrotados de pessoas de classe média que em sua maioria são jovens universitários que não são capazes de renunciar os “ismos” e “istas” da boca para sequer se sensibilizar de fato com a dor dos pobres.
Dessa forma se sente excluída dentro de movimentos que pregam a inclusão. Assim, sente na pele a desilusão de militar dentro de uma comunidade, tendo que disputar atenção das pessoas com a televisão e lidar às vezes com a repressão da policia e dos traficantes; dessa forma ela luta cotidianamente para um dia seu povo se libertar, se unir e garantir que os mínimos direitos como o de viver em paz, o de ir e vir, seja respeitado.
A jovem Graziele segue bravamente remando contra a Maré, mas sabe que se mais braços não remarem juntos, o barco da revolução não vai navegar.
Graziele é uma moça aparentemente frágil. SeuS 1,60m e seus 44 kg, escondem uma fortaleza de pessoa. A vida áspera que herdou da herança de ser pobre, a criação severa que obteve, e a violência social transformou essa menina em uma pessoa forte. Sempre observou o cotidiano da favela da Maré, e demorou a entender como um povo tão sofrido insistia em sorrir. Pois percebia que seus únicos direitos garantidos pela sociedade burguesa era o de sofrer e amar a Deus. E entendeu que seu pai cresceu entre a cruz e a espada por ter podido estudar só até a 4ª série primária. Buscou estudar, conseguiu com muito sacrifico uma bolsa de estudos e financiar um curso de jornalismo em uma das escolas mais tradicionais do Rio de Janeiro.
Ela aprendeu desde cedo a não abaixar a cabeça, a olhar nos olhos das pessoas e mandar o papo reto. Seu primeiro dia de aula se apresentou a turma e se posicionou como favelada, e disse em bom tom: “Moro na favela da Maré na comunidade Mandacaru, estou aqui por uma bolsa financiada, meu objetivo como jornalista é escrever a voz da minha comunidade, pois estou cansada em ver e ouvir o que esses shownarlistas escrevem”. “Não acho que só a favela da Maré deve mudar, a mudança tem que ocorrer em toda parte da cidade, ou na zona sul não há problemas?”. Alguns alunos se assustaram, outras fizeram cara de deboche, e desde então ela causa estranhamento na turma. Suas opiniões e posições costumam ser contrárias a da maioria das pessoas, que reforçam a lógica de criminalização da pobreza. Muitos da turma ainda não se conformaram em ter que dividir a sala com uma favelada.
O jeito simples de Graziele,causa asco nas patricinhas da Gávea, que por costume repudiam quem repete a mesma roupa. Mesmo num ambiente desfavorável, ela conquistou alguns professores progressistas e na turma de 40 alunos, conseguiu a amizade de duas meninas que tiveram sensibilidade para aprender e entender coisas com Graziele que a universidade não ensina. Mas o debate na faculdade é pouco, perto da sua luta particular; pois Graziele se sente discriminada até pelos movimentos sociais da esquerda. Quando ela chega em reuniões e atos, vê um monte de intelectuais acadêmicos falarem de hegemonia e contra-hegemonia , dizerem que a tão classe subalterna ainda não atingiu a consciência. Mas ela não vê aqueles intelectuais pisarem em favelas, ocupações urbanas, muitos não aparecem nem para prestar solidariedade em atos de protesto contra a violência do Estado nessas comunidades.
Quando sai dessas reuniões seu desespero aumenta pois vê que os movimentos sociais estão abarrotados de pessoas de classe média que em sua maioria são jovens universitários que não são capazes de renunciar os “ismos” e “istas” da boca para sequer se sensibilizar de fato com a dor dos pobres.
Dessa forma se sente excluída dentro de movimentos que pregam a inclusão. Assim, sente na pele a desilusão de militar dentro de uma comunidade, tendo que disputar atenção das pessoas com a televisão e lidar às vezes com a repressão da policia e dos traficantes; dessa forma ela luta cotidianamente para um dia seu povo se libertar, se unir e garantir que os mínimos direitos como o de viver em paz, o de ir e vir, seja respeitado.
A jovem Graziele segue bravamente remando contra a Maré, mas sabe que se mais braços não remarem juntos, o barco da revolução não vai navegar.
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