quarta-feira, 7 de abril de 2010

Toda força ao morro do estado-rj

Quarta-feira, 7 de abril de 2010
Toda força ao morro do Estado-RJ


O morro do estado localizado no centro de Niterói foi minha primeira moradia no estado do RJ.
Há precisamente um ano e 2 dias atrás conhecia essa comunidade e com ela me identificava. Lá subi com a professora Adriana facina e o amigo e dirigente do MST Mardonio Barros.
A intenção dos dois militantes e articuladores de movimentos sociais é que durante os três meses que eu passaria no RJ, fazendo um curso de extensão sobre agentes populares na UFF, pudéssemos, eu e meu irmão Zeu, desenvolver um trabalho junto com a Associação de moradores do morro do Estado, a AMME.
Lá se foram três meses de muitas lutas, angústias, alegrias e muito aprendizado. Pois lá vi a real do que significa uma pacificação forçada pela policia. Lá conheci ex-meninos do tráfico que hoje têm uma vida "normal" e outros que saíram dessa vida e passam fome. Lá escutei os primeiros Funk´s. E lá fiz diversas amizades que me acompanharam posteriormente pelo ano de 2009.
O morro do Estado foi uma grande escola de militância de direitos humanos. Ao lado do Tão e do Madureira aprendi como a vida no morro é efemêra e como devemos intervir cotidianamente nessa realidade, como é viver a margem de tudo e mesmo assim sonhar todo dia por uma vida melhor. Lutamos muito ai contra o descaso dos órgãos públicos para transformar essa realidade de abandono, preconceito e afastamento dessa população.
E hoje vejo o quanto nossas demandas eram e serão cada vez mais importantes. Essa tragédia só nos revela a violência dessa exclusão, da falta de direitos básicos como moradia decente. Enquanto esse Estado fascista investe bilhões em propaganda das olimpíadas é o mesmo Estado que nega o mínimo para essa classe trabalhadora empobrecida.
Friso que mesmo a grande mídia sempre apontando esse lugar como reduto de marginais e etc, digo que a casa que morei no beco do 30 nunca teve fechadura a porta mal fechava e mesmo assim nunca tivemos problema algum. Sempre eu e Zeu fomos muito respeitados por essa comunidade, o ato mais violento que vi lá foi o de nos zoarem por termos um sotaque de caipira. Violência lá eu só vi na rispidez da policia do GEPAE e do Estado que nega direitos básicos a esse povo.
No morro do estado eu presenciei a luta incansável de uma associação que luta cotidianamente por justiça e por direitos básicos. E quando vêm a tona através da mídia a realidade desse lugar vêm a realidade do por quê lutar, o por quê querer transformar. Não podemos parar, desistir, é nessa hora que os que lutam devem lutar dobrado e aqueles que ainda não trilharam a estrada militância comecem porque só lutando as coisas podem melhorar.
E ao ver essa tragédia lembro das pautas das reuniões, dos debates travados e da nossa luta que por hora a chuva carrega. E que nesse momento essa enchente afunda nossos sonhos nossa fé e frustra até mesmo a vontade de continuar vivendo.
Peço que toda população não aceite o discurso da grande mídia que culpará a natureza por essa tragédia o culpado é o estado. A causa não é natural e sim social.
E que os jovem militantes da UFF e de outras escolas que esse é o momento de por a práxis da militância política em prática e carregar no peito a solidariedade guevariana "de que aonde houver injustiça lutaremos" e também consolar os irmãos do morro do Estado nesse momento de dor e prejuízo.

Não sei se consegui escrever coerentemente, pois estou nervoso. Espero por noticias daí, mas espero mesmo por justiça e que isso seja um basta. Não devemos mais aceitar viver assim. A tragédia é sempre com os mesmos, é sempre com os pretos.

Espero por noticias de Guelo, Facapa, Chiquinho, Tão, Madureira, Fernanda entre outros amigos.

Ficarei daqui com os olhos marejados enquanto escrevo e com o coração apertado. Clamando coletivamente com vocês por justiça. E que tenham força para superar tudo isso. E que não só reconstruam essa favela mas, também um novo mundo.

Danilo geroges-quinta-feira 8 de abril de 2010.

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