segunda-feira, 19 de abril de 2010

Documentário mostra a face oculta de Foz e incomoda os que se acham donos da cultural local por* Cátia Ronsani Castro

O documentário retratando as contradições da sociedade iguaçuense é lançado na Unioeste-Foz, no dia 13 de abril, e abre mais um importante debate sobre as condições de moradia, trabalho, lazer e entretenimento, enfim, sobre as condições em que vive parte da população de Foz.
Sendo inteiramente fiéis ao título do documentário, seus produtores retrataram mais do que a “face” que é vista e conhecida no mundo inteiro, das belezas naturais (cataratas, rios, biodiversidade de plantas e animais), trataram principalmente da face oculta da cidade (suas mais de 90 favelas e a difícil luta pela sobrevivëncia de seus moradores), uma realidade que é conhecida por poucos e ignorada pelo poder local constituído.

Ficou evidente no debate realizado posterior à exibição do documentário, que muito mais que o descaso e o abandono das seguidas gestões municipais à frente da prefeitura, essa é uma realidade produzida pelo modo de produção capitalista e que está presente em grande parte das cidades brasileiras. Nesse sentido, foi riquíssima a contribuição no debate da professora Adriana Faccina, do Rio de Janeiro, moradora de Niterói que pode relatar um pouco de todo o drama vivenciado pelos moradores dos morros atingidos pela última enchente.

Um outro aspecto que o documentário traz e que provocou um certo desconforto naqueles que selecionam e gerenciam as atividades consideradas “culturais” na cidade, foi mostrar a cultura produzida pelo pessoal da favela, como a música, a dança, a poesia, o teatro, que simplesmente não são reconhecidas e valorizadas, em virtude da concepção vigente e dominante na sociedade, originada pela divisão em classes, que só reconhece como cultura aquelas atividades que se enquadram nos padrões oficiais definidos pela classe dominate. Uma visão que desconsidera o fato da cultura ser a produção humana característica de cada período histórico e de acordo com as condições materiais e subjetivas que os homens tem de intervir no meio.

O documentário cumpre mais um importante papel no sentido da luta dos movimentos sociais pela descriminalização da probreza. Os meios de comunicação dominantes, o pensamento dominante e grande parte das ações políticas ligadas à classe burguesa, há tempos tem se empenhado em caracterizar os trabalhadores e seus filhos (empregados ou desempregados) como marginais, criminosos, entre outros. Isso fica mais evidente nas ações da polícia, quando invade morros e favelas, adentrando as casas com truculência, com armas apontadas para cabeça das crianças, quando espancam os jovens nos becos, quando ocupam as escolas para cuidar da “disciplina” e da “educação”, quando atuam com violëncia contra os atos e greves dos movimentos sociais e sindicais. Essas ações não são isoladas nem pensadas pelos próprios policiais, fazem parte da política de extermínio dos pobres que marca o pensamento da classe dominante brasileira e boa parte dos políticos que a representa.

O filme mostra quem são os moradores das favelas de Foz, o que fazem, como se divertem, como se organizam, com o que sonham e como fazem para sobreviver e tentar superar as dificuldades de uma cidade que tem política para atender turistas do mundo inteiro e se fecha para a sua população: o povo pobre e trabalhador.

Por todos esses papéis importantíssimos que o documentário vem cumprir - pela denúncia ao sistema capitalista que por sua natureza contraditória é marcado pela miséria da classe que é produtora de toda a riqueza a partir do seu trabalho - parabenizamos os produtores (Danilo Georges e Eliseu Pirocelli) e todo o pessoal envolvido na produção e divulgação do mesmo.

Acreditamos ainda, que o documentário pode ser um instrumento a mais para os educadores comprometidos com o processo de desvelamento da realidade, do funcionamento da sociedade, especialmente a realidade de Foz do Iguaçu, que propositalmente é ocultada.

* Cátia Ronsani Castro
Funcionária do Col. Est. Barão do Rio Branco e Secretária de Imprensa da APP-Sindicato /Foz

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