Hoje a reencontrei, há tempo a procurava, forjava esse momento,
essa coisa tão minha, tão intima, há meses isso não acontecia.
Estava em meu quarto, e acho que lá está um pouco dela, a minha
cura, a paz que necessito.
Ela apareceu sutilmente naquele ambiente, um pouco
tumultuado entre os papeis com rabiscos de ideias, poemas e lembretes do que
fazer jogados pela cama e pelo chão.
A frente o mosaico do comandante Ernesto Che Guevara
lapidado com carinho pelo camarada Javier guerreiro.
Na parede o desenho
de um camponês segurando o arame farpado desenhado pelo companheiro Carlos latuff,
ao lado a bandeira do Mst deixada em cima da escrivania doado pelo compa Angelo Manzin.
Ela está lá! Entre esses objetos, no meio dos escombros de
sentimentos, deixados pela relação mutua dos irmãos de caminhada.
Está entre as cartas e regalos guardados na gaveta, na
memoria, na lembrança dos amores do passado e do presente, está no ultimo
incenso que acabo de queimar, o perfume
dele se espalha pelo meu quarto, me lembra um pouco do perfume dela, fico
confuso.
Recordo de bons
momentos com uma companheira que
tenho muito apreço, ela Sussurra a primeira palavra, e meu ouvido, quanto apego!
Mas ela está também nos livros em cima da minha prateleira, dos
mestres da vida, Vito Gianotti, Claudia Santiago e Repper Fiell. Todos com
lindas dedicatórias vê-los sempre lembram que a vida vale a pena.
Ela, está presente no quadro de Eduardo marinho em cima da
minha cama com o titulo observar e
absorver, e absorvendo aquela energia, ela foi chegando e me tocou
novamente, sua segunda frase é “Busco no presente minhas utopias do
passado”.
Sorri, abri a janela da sacada e disse seja bem vinda, minha
querida, preciosa e rara, consciência!
É tão bom te senti assim tão minha.
Você esteve tão sumida nesses tempos, ando tão pouco
racional ultimamente, sinto que você me abandonou, eu fiquei sozinho, enclausurado
pela ansiedade e angustia, desorientado pelo sentimentalismo que balançou meu
coração pró-feminista.
Mas ela já chegou me cobrando, mesmo há meses sem me visitar
ela nunca é meiga, que consciência mais marrenta. O primeiro questionamento
foi: oque tem feito com seu tempo? Tem
produzido coisas positivas? Como tem tratado as pessoas? Como anda a sua
relação com seus pais? E seu trabalho? Tá educando ou tá enganando? Esbravejando
ela dispara sua terceira frase “Já aprendeu a controlar seu ego fdp!”.
No silêncio que procedeu, após o esporro que levei, a vida
doeu. Mas passado os primeiros minutos de contradições, ela viu que estava
ferido, foi, mas branda, mas amiga e terna.
Então antes que ela desaparecesse aproveitei sua presença
sublime e disse, espera ai Não vá embora porra!
Tenho pensando em
tudo isso que você ponderou: família, amigos, relações conjugais, trabalho,
luta e educação...
Ajude-me, me sinto tão covarde, nós somos tão poucos nossos
inimigos são tantos, nós somos tão frágeis nossos inimigos são tão fortes, não
seria mais lucido de fato eu me desesperar de vez?
Ela sorriu, tocou meu ombro e disse serenamente, enquanto
você estiver desesperado, angustiado e desanimado haverá nisso tudo também a
esperança.
E da fagulha de esperança que arde seu peito irá nascer a expectativa
do novo, que vai jorrar toda agua límpida purificando nossa alma, assim sua sede de futuro será sanada.
Pois Cada segundo de sua vida meu jovem, tem o rumor vivo das
utopias, é na utopia, na esperança e na possibilidade do amanhã que se move o imenso
chão da vida.
Caminhe, de preferencia de passos lentos, se permita ser
mais humano, e lembre-se há sempre a necessidade
de se reconstruir, junte os últimos pedaços de
sentimentos, paixões, sensibilidade e utopias,
reconstrua seu quadro humano, se refaça! Liberte-se dos maus pensamentos, A
vida é um mosaico!