domingo, 30 de janeiro de 2011

Voz rouca das ruas por:Mário Augusto Jakobskind

Os recentes acontecimentos no Mundo Árabe, sobretudo na Tunísia e Egito devem servir de reflexão sobre o comportamento da mídia de”mercado, que foi pega de surpresa. Simplesmente, por incompetência ou por falta de vontade política em correr atrás da notícia naquelas plagas, ignorou um fenômeno marcante nos dias atuais em várias partes do mundo: o papel das redes sociais na internet.

Os jovens tunisinos e egípcios estão mobilizados pelo menos desde 2004 e preparavam terreno para fazer o que estão fazendo, ou seja, dar o recado de que basta de ditaduras, corrupção e miséria. O ditador-ladrão tunisino, Ben Ali e seus familiares saíram correndo em direção à Arábia Saudita, levando muito ouro para viver nababescamente o resto da vida. Foram acolhidos pela família real saudita, aliadíssima dos Estados Unidos, também autoritária e corrupta.
O Ocidente passou a olhar com grande preocupação as mobilizações populares naquela parte do planeta e tenta interpretar a sua maneira o ronco das ruas. De Barack Obama a Hillary Clinton, passando pela alemã Angela Merkel e pelo francês Nicolas Sarkozi, todos pediram calma, mas esqueceram de admitir que ditadores como Ben Ali e Hosny Mubarak, do Egito, só estão lá, ou ficaram por tanto tempo, simplesmente porque tiveram o apoio do Ocidente. Sem isso já teriam sido detonados.
Agora, para evitar perderem os dedos, Washington, Berlim e Paris pedem aos dirigentes tunisinos e egípcios que dialoguem com a oposição, sobretudo com os jovens que estão nas ruas dando o recado e mostrando que perderam o medo da repressão.
Neste momento, o foco principal é o Egito, onde 38 já morreram em manifestações nas principais cidades. O ditador Mubarak, de 82 anos, que prepara terreno para o filho ficar em seu lugar, ocupou de madrugada uma cadeia nacional de rádio e televisão para dizer que não renuncia, mas mudará todo o seu ministério.
Mubarak quer ter uma sobrevida política e atender cosmeticamente algumas reivindicações. Foi instruído pelos dirigentes ocidentais para ceder os anéis e não perder os dedos. O fato de Mubarak ter dado satisfação e vir a público pregar o “diálogo, pela primeira vez em 32 anos, nada mais é do que uma tentativa de trocar o seis pelo meia-dúzia. Ou seja, mudar para não mudar.
Na Tunísia a mesma coisa. Ben Ali já se foi, mas no governo provisório instalado depois da queda permaneceram os de sempre, ou seja, aqueles que junto com o ditador empobreceram o povo e seguiram a risca as exigências do Fundo Monetário Internacional.
Antes dos jovens saírem às ruas, a mídia de mercado, seguindo os ditames dos organismos financeiros internacionais, considerava a Tunísia como um exemplo a ser seguido por outros países. A miséria, o desemprego dos jovens e tudo mais pouco importava para o mundo financeiro.
A Tunísia de Ben Ali de alguma forma lembra o que aconteceu há anos com o México sob a batuta do hoje exilado ex-presidente Salinas de Gortari. Aqui no Brasil, economistas defensores do Estado mínimo consideravam Gortari o estadista. O então presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a considerá-lo seu guru. Mas depois da quebra do país azteca, os defensores do modelo neoliberal se recolheram. Cardoso nunca mais se referiu a Sa linas de Gortari, nem foi perguntado a respeito.
A mídia de mercado, leia-se O Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, revistas Veja, Época e Tvs Globo, Bandeirantes, Record etc, simplesmente tece loas aos políticos que defendem modelos econômicos que levam os seus povos à miséria. O que se passa agora no Mundo Árabe é a repetição medíocre do tipo de cobertura internacional que a mídia de mercado está acostumada a fazer e cuja pauta muitas vezes é elaborada em Washington.
Outro exemplo também atual remete a Honduras. Pois bem, o presidente, Porfírio Lobo, eleito numa eleição mutretada está propondo ao Congresso a aprovação de um projeto permitindo a sua reeleição. Quando Manoel Zelaya foi deposto, com o sinal verde de Washington, o pretexto dos golpistas era de que ele queria continuar no poder. Zelaya apenas pensava convocar um plebiscito para saber se o povo aceitaria a reeleição de um presidente, nem a partir dele, mas de um pr óximo eleito.
A mídia de mercado deitou e rolou sobre o tema, E agora, o que está acontecendo? Total silêncio. Sabem o motivo? Lobo é parceiro dos EUA, mas Zelaya tinha se afastado da órbita e preservava a soberania do país.
O Brasil até hoje não reconheceu o governo Porfirio Lobo, posicionamento que possivelmente o Presidente Barack Obama tentará convencer Dilma Rousseff a mudar, no encontro que terão no mês de março próximo.
É isso aí. Assim caminha a mídia de mercado, cada vez mais manipuladora e especializada em mentiras e meias verdades. Está ou não na hora dos setores progressistas da sociedade brasileira unir forças no sentido de criarem um contraponto aos jornalões e telejornalões?


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