quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Padre que enfrentou os porões da ditadura, realiza palestra em foz

Padre defensor de prisioneiros políticos realiza palestra em Foz
Sinônimo de resistência e solidariedade nos anos de chumbo, o padre Renzo Rossi estará em Foz do Iguaçu para compartilhar histórias vividas na ditadura militar. Ele realizará uma palestra amanhã (quarta-feira) para marcar os 31 anos da leia da anistia. O evento será na UDC, com início às 19 horas e entrada gratuita.







Italiano de Florença, o missionário chegou ao Brasil em 1965 para viver ao lado do povo baiano. Durante a repressão, amparou prisioneiros políticos e suas famílias. Também defendeu a anistia ampla, geral e irrestrita aos perseguidos pelos militares. Foram anos e anos de luta contra os crimes cometidos em porões.
O religioso italiano testemunhou tortura e morte infligidas aos presos políticos e amparou as mães e filhos vítimas do arbítrio. Na época, chegou a visitar 14 presídios, tornou-se peça-chave na articulação das greves de fome e levava conforto às famílias dos “desaparecidos”. Na foto, Padre Renzo (ao fundo) acompanha visita de dom Helder Camara a Florena, na Itália, ínicio dos anos 70.
Parte dessa história, aliás, está no livro As asas invisíveis do padre Renzo, do escritor Emiliano José. A obra foi lançada em 2002 pela Editora Casa Amarela (a mesma que publica a revista Caros Amigos) e tem prefácio de Frei Betto.
Atualmente, padre Renzo Rossi mora na Itália. Sua passagem pelo Brasil neste mês inclui atividades no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Foz do Iguaçu. A vinda para a fronteira atende a um pedido do recém-reorganizado Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP).
“O encontro desta quarta-feira é uma oportunidade rara para conversar com um humanista que tem na bagagem 85 anos, muitas experiências e uma visão de humanidade progressista”, afirma Aluízio Palmar, presidente do CDHMP. Palmar reforça que o evento marcará os 31 anos da anistia, promulgada em 28 de agosto de 1979.

Centro de Direitos Humanos é reorganizado no município
A instituição foi reorganizada em Assembleia-Geral Ordinária no dia 12 de julho deste ano. O processo de reestruturação resultou na modernização do seu estatuto, aumento do leque de ação (abrigando agora a preservação da história da cidade) e eleição da diretoria.
O Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP) de Foz do Iguaçu tem como princípio a construção de uma sociedade justa, democrática e igualitária. Para tanto, visa ao desenvolvimento de programas de promoção e defesa dos direitos humanos, econômicos, sociais e culturais.
Entre os novos objetivos está a constituição e a manutenção de arquivo documental de impressos, de áudio e áudio-visual dos registros que constituem a memória popular. Também visa a apoiar as lutas dos trabalhadores e o direito à comunicação democrática, entre outros direitos.
O CDHMP funciona na Avenida Brasil, 531, Galeria Center Abbas, sala 54. A diretoria é formada por: Aluízio Palmar (presidente); Danilo georges (vice-presidente); Tathiana Guimarães (secretária-geral); Osmar Gebing (tesoureiro); e Alexandre Palmar (diretor de Comunicação). Mais informações pelo telefone (45) 9922-2692 ou pelo e-mail cdhfoz@gmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. .
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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

AS ELEIÇÕES, PROJETO FICHA LIMPA E PLINIO.POR:DANILO GEORGES

Ele subiu o morro sem gravata/Dizendo que gostava da raça/Foi lá na tendinhaBebeu cachaça/E até bagulho fumou/Foi no meu barracãoE lá usou/Lata de goiabada como prato/Eu logo percebi/É mais um candidato/Às próximas eleições.
Em ano eleitoral a retrogada da música de Bezerra da Silva “Canditado Caô” se torna evidente.
Em meio a esse imenso curral eleitoreiro e politiqueiro temos que nos posicionar.
Diante das evidencias ou falta delas um pensamento emerge “temos que escolher o menos pior”
Nessa triste e ardua tarefa, faremos a escolha, atingindo o apice dessa democracia, todos cidadão têm direito ao voto. Mas se as coisas continuaram ruins, e foi voce sim, que não soube votar.
Por isso temos que que escolher um representande nosso!
As coisas caminham de mal a pior, a educação padece, a saúde respira com ajudas de aparelhos privados, mas calma uma nova esperança surge!
o projeto ficha limpa: Olha que bacana , agora um canditado que têm processos judicias e retrocessos executivos terá complicações em se lançar a disputa, será?
Eu não acho o projeto ficha limpa e alma suja importante.
Por dois aspectos: sabendo eu que condenado nesse país só é pobre, preto e outros “p”, não creio na condenação de Maluf, Giacobo, Sarney e outros magnatas do poder.
Por esses ilustres bastaria fazer com que a justiça funcionasse, todos sabem no que essa gente já se meteu e como meteram a mão nos cofres públicos, e já deviam há tempos de estarem na cadeia. E não proibidos de se canditadar.
Mas como são habilidoso$$ esses politicos se lançam de novo a canditados com uma nova roupagem.
O novo maluf é o mesmo, que defendeu a ditadura militar enriqueceu com ela e ainda fingi não ter nada a ver com isso, e será um projeto reformista de ficha que mudará esse quadro?
Giacobo só mudara de cidade vai parar de comprar votos digo: doar cadeira de rodas em Cascavel e irá doar alimentos em Foz do Iguaçu. Com proposito de se eleger é claro.
Sarney continuartá mamando nas tetas do estado e grilando mais terras no nordeste.O maranhão por completo será seu, ele fundará o estado de Sarney.
O projeto ficha limpa é ilusório e insatisfatório, é como pegar um velho doente em estado terminal e colocar uma roupa nova, dizendo que o velho irá se curar, enquanto na verdade continuara cada vez mais doente.
O ficha limpa só funcionará com o povo, as leis só afetam o povo e não ilustres magnatas, coitado do canditado “zé das coves” do “polaco preto” e outros populares.
Esses com certeza serão proibidos de se lançarem a canditados, pois são pobres, não tem as costas quentes e nem dinheiro para financiar uma mídia que construirá uma nova imagem.
A maior prova da ilusão desse projeto é ver quem o defende, por exemplo a bancado do DEM (antiga arena e extindo PFL) Já privatizaram tanto, que já colocaram pedágios e impostos até no ceú. O povo com ficha limpa ou sem ficha limpa continuará iludido e lubridiado crendo na punição de poderosos.
Só têm uma coisa que têm me empolgado nesse processo eleitoreiro é ouvir um senhor de 80 anos de idade e mais de 60 anos de politica defender o estado de direito a reforma agrária e ter consciencia de que é necessário fazer politicas publicas que afetem as estruturas economicas, destruindo o muro invisivel mas perceptivel que divide a sociedade.
Plinio de Arruda Sampaio me traz esperança ao denúnciar a mascara de “poliana” que marina, serra e dilma vestiram no primeiro debate a presidente trasmitido na band, a figura de poliana a menina de onze anos puritana e boazinha que pregava o jogo de procurar em tudo alguma coisa que a faça contente, e o ensina sempre que encontra alguém triste, aborrecido ou mal-humorado.
Os projetos do TRIO Moto-Serra, Marina e Dilma buscam convencer o povo que promoveram politicas mais ou menos razoaveis, dando uma pequena felicidade ao povo.
Assim Plinio causou no debate e esculhachou o fascista moto-serra, a ecocapitalista-Marina e a populista Dilma.
O ancião Plinio não precisa de roupa nova, seu debate e sua politica é a mais qualificada.
A direita sim necessita da imagem de poliana e projetos tipo de fichas limpas para camuflar a “democracia” e vestir uma nova carapuça.
Não acho que Dilma é a mesma que coisa que Moto-Serra, e Marina, mas defender sua canditadura no primeiro turno é pensar na logica do “menos pior”.
Eu realmente não quero o menos pior, almejo e luto por uma politica socialista que será um antidoto para vivermos melhor.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Um Encontro com um ídolo por:Danilo georges

Quarta-feira 29 de julho, um dia que ficará em minha memória.
Seria mais um dia normal durante os 10 dias que passei na cidade do Rio de Janeiro, revendo amigos e companheiros de luta, nessa viagem eu tinha um grande objetivo. O de trazer os irmãos da APAFUNK (Associação de profissionais e amigos do funk) para realizar um show em foz e fazer posteriormente uma atividade político-cultural em que se discuta a marginalização do Funk e Hip-Hop, a criminalização da pobreza e refletir em qual será o papel de artistas engajados na luta por direitos, nessa sociedade barbarizada.
Na quarta-feira pela manhã meu celular toca é o mano teko funkeiro e militante que eu tenho muito apreço, ele diz irmão vamos conversar hoje as 17 horas para discutirmos sobre a ida a Foz, estaremos gravando hoje no estúdio do Marcelo Yuka, anota o endereço chega lá as 5, não se atrase.
Por surpresa Yuka reside no mesmo bairro que eu estava dormindo, fiquei na hora um bucado feliz, pois sempre o admirei, a banda o Rappa liderada por muito tempo pelo yuka foi a banda que eu mais Curti em minha adolescência.
A felicidade aumentou quando soube que o estúdio foi liberado para os camaradas da Apafunk gravarem o jingle de um canditado a deputado muito ilustre que é o Marcelo freixo que presidiu a CPI das milícias encaminhando a prisão de 225 pessoas envolvidas nessa máfia, condenando policias, parlamentares e até um ex delegado da policia civil do Rio de Janeiro.
Chegando na casa do Yuka reencontro grandes amigos como o mc pingo que é pra mim o grande mc do rio de janeiro, mc Leonardo, mc liano, Junior e o camarada Edu Alves.
Ficamos por três horas no estúdio do Yuka e logo de cara me deparo com duas bandeiras em seu estúdio uma do MST e outra do flamengo. Após muita conversa enquanto os mc´s gravavam o jingle para campanha do Freixo, subimos até a casa do Yuka para cumprimentá-lo e agradecer pelo espaço cedido.
Estava muito ansioso, pois minha geração carece de músicos politizados, ficamos semi órfãos com a morte do Renato Russo, minha referencia política musical hoje é Marcelo Yuka e estava prestes a conhecê-lo.
Esperamos uns 40 minutos na sala de sua casa para recebe-lo ele tinha saído do banho, e estava sendo trocado e cuidado por sua mãe e mais dois camaradas que o auxiliam, nesse tempo sua mãe caminha até gente ela conhecia o Eduardo e o mc Leonardo e disse a eles “ele não está muito bem teve algumas complicações de saúde, conversem com ele, pois ele está passando por dias difíceis.”
Nesse momento pude entender o que o guerreiro Marcelo yuka passa, sua rotina de tratamento, medicamentos e cuidados, tudo isso causado pelo “atentado” que sofreu, perto ali da sua casa, quando após presenciar um assalto deu ré com o carro e teve o corpo alvejado por balas, ficando paraplégico.
Um dos seus auxiliares o põem em sua cadeira de rodas e ele chega até a gente, cumprimenta um por um, lê a camiseta do mano teko que estava escrito “funk cultura carioca” e diz essa é a camiseta da apafunk e abriu um grande sorriso.
Leonardo então se aproxima e diz Yuka aponta para o mc pingo esse moleque é seu fã , tava louco para conhece-lo, ele puxa papo com o pingo.
Conversa vai conversa vêm, o pessoal ia se preparando para ir embora, entrego o cd do mano zeu pra ele, começamos a conversar, disse que era de foz do Iguaçu ele pergutna como é o movmento hip-hop lá o papo flui, mas nisso chega o taxi e os mc´s junto com o Edu vão embora, ia me despedindo quando o mc Leonardo falou não quer ficar ai mano, eu meio sem jeito falo acho que vou indo ai Yuka diz fica ai cara, vamos discuti esse cd que você trouxe.
Fiquei lá junto com o mc Leonardo conversando por horas com yuka, ele me questiona se têm funk em foz eu digo que o pessoal ainda têm um pouco de preconceito só assimilam o funk a pornografia difundida na grande mídia, ele diz é só levar esse cara pra lá apontando pro Leonardo ele mudará com certeza essa imagem.
Então Leonardo coloca no som da sala, sua nova produção a música “Tá tudo errado” que será tema do filme tropa de elite 2, enquanto escutávamos ele olha atentamente para o cd do mano zeu lê a capa abri um sorriso e diz rindo “conto de fardas ehe” nome de uma das músicas do zeu, falei sobre as músicas e disse que a faixa “fala favela” foi feita no festival fala do curso de extensão de agentes culturais coordenado pela Adriana facina, falemos a partir daí de universidade, cultura, upp´s, violência, funk, falemos da vida difícil do mano pingo em acari do força do rap, ai yuka falou “ o empresário do artista será sempre mais rico do que ele esse é o modelo, quem vocês acham que têm mais dinheiro o Roberto Carlos ou o empresário dele? É por isso que temos que lutar” Voltei a falar da produção do mano zeu feita de forma independente ele se animou mais pontuou “temos que tomar as gravadoras se libertar”
Eu e o mc Leonardo, ficamos até meia noite em sua casa, nesse horário ele iria trabalhar desceria até o estúdio para trabalhar em uma nova produção musical.
Me despedi de Yuka com uma paz de espírito muito grande, seu jeito critico e sensível me comoveu, abracei ele fortemente, foi quando me disse “ai pega meu número com o mc vou ouvir esse cd que você trouxe ai conversaremos e fica ai no RJ poh com esse galera maneira ai” sorri e disse que hoje minha vida tava em foz, mas um dia eu volto quem sabe, parodiando sua música ele sorriu novamente.
Yuka chamou um taxi para nós, no caminho agradeci Leonardo pela oportunidade que ele me deu de conhecer Yuka ele respondeu “que isso mano tamo junto” eu desci do taxi na avenida maracanã e caminhei para casa, Leonardo seguiu no taxi rumo a Taquara.
Impressionante como a vida das pessoas se entrelaçam, fiquei aliviado pois idolatrei e admirei o cara certo, humano, militante e defensor do MST, do Funk , da liberdade artística e da periferia.Mesmo em cadeira de rodas não parou de lutar, sua ideias e pensamentos caminham livremente. Salve yuka, salve a vida e todos militantes do Brasil fogo no pavio!

domingo, 1 de agosto de 2010

1° DE AGOSTO YCUÁ BOLAÑOS A AMARGA LIÇÃO QUE VEM DO LADO DE LÁ DA PONTE DA AMIZADE (Por: Emílio Gonzalez e Danilo Georges).

Era manhã de domingo. Já passava das 11 horas e, como de costume, centenas de pessoas chegavam ao hipermercado Ycuá Bolaños, situado na movimentada avenida Artigas, uma das mais importantes vias expressas da cidade de Asunción, capital do vizinho país, Paraguai. Naquele dia, no entanto, a rotina das corriqueiras compras do almoço dominical seria bruscamente interrompida por conta de um pequeno incêndio ocorrido no setor da padaria. Teria sido apenas mais um incidente. Informado sobre o ocorrido pelo celular, o empresário Daniel Paiva, que havia se ausentado momentaneamente do estabelecimento, orientou o gerente a ordenar o fechamento imediato das portas, afim de evitar que as pessoas saíssem sem pagar ou promovessem saques e roubos. O medo, como sempre, recaía sobre uma massa homogênea, sem rosto e amorfa chamada “povo”. Como a grande maioria da população paraguaia, as pessoas que estavam no Ycuá Bolaños naquela manhã de domingo era gente simples, humilde, pobre, trabalhadores. Numa situação de perigo iminente, como um incêndio, é normal que os donos do capital pensem em proteger seu patrimônio. Os pobres, nesta hora, passam a ser vistos como potenciais inimigos, porque pretensamente “aproveitadores”.



A ordem de fechamento das portas baseava-se nessa racionalidade. O problema é que, em questão de minutos, as até então inofensivas chamas geradas num local isolado do mercado viajaram pelo forro do teto, consumindo e alimentando-se do gás ali acumulado durante anos. Seguiram-se algumas explosões, que afetaram o sistema elétrico do prédio, e a queda de energia repentina impediu que a reabertura das portas fosse efetuada, uma vez que estas eram movidas eletronicamente. Em pouco tempo, todo o mercado ardia em chamas, e enquanto o forro incandescente despencava na cabeça das pessoas em pânico, a escuridão, o calor extremo e a fumaça tóxica terminavam por compor aquele terrifico cenário de horror. Ao vivo, as principais emissoras de televisão transmitiam para o país inteiro o esforço e o desespero de bombeiros e voluntários que, do lado de fora, lutavam para controlar o fogo, abrir buracos nas sólidas paredes de concreto e tentar resgatar pessoas ainda com vida entre os corpos que jaziam calcinados pelo fogo. Era 1o de agosto de 2004, e naquele dia, uma nuvem escura e espessa cobriu de luto o céu da capital paraguaia.
Nos dias que se seguiram, o número de vítimas não parava de crescer. Ao final, a estatística macabra revelava dados assustadores da tragédia: mais de 400 pessoas perderam a vida neste incêndio, além das outras milhares que ficaram com seqüelas físicas e psicológicas até hoje difíceis de cicatrizar.


O incêndio do mercado Ycuá Bolaños marca uma das páginas mais tristes da história recente do vizinho país. Mais do que isso, foi um marco visível dos efeitos trágicos e desumanos gerados através da contradição presente numa sociedade capitalista. Não fosse o saldo mortal, para os donos do dinheiro, aquele teria sido apenas mais um dia como outro qualquer, no qual a preocupação com a defesa do patrimônio colocou em segundo plano a preocupação com as vidas humanas. Detratados pela imprensa paraguaia e sociedade como os grandes vilões desta tragédia, os proprietários do mercado, Juan e Daniel Paiva – pai e filho, respectivamente -, infelizmente apenas representam uma pequena parcela da racionalidade materialista que movimenta esse sistema maléfico, desigual e desumano em que vivemos. Sistema este que transforma pessoas normais – proprietárias ou não – em seres neuróticos, esquizofrênicos, perturbados, avarentos, desconfiados, incapazes de definir, no momento de tensão e perigo, o que de fato tem mais valor; o dinheiro ou a vida.


A civilização criada pela sociedade de mercado em que vivemos, materialista e consumista, na verdade, é a própria barbárie. O culto a valores tão apreciados e apregoados pela burguesia como consumo desenfreado, acúmulo de bens, ostentação, etc, nos torna também cúmplices de outros milhares de assassinatos e atos violentos contra a humanidade que ocorrem todos os dias. Somos cúmplices do assassinato de centenas de pessoas vitimadas pela guerra entre traficantes e policiais; enquanto os primeiros aspiram poder se inserir enquanto “consumidores” de uma sociedade cujos valores são reguladas pela capacidade de comprar, os policiais matam e morrem defendendo o status quo de quem já alcançou o poder. É trabalhador matando trabalhador. Também consentimos com as cotidianas invasões que a polícia promove em favelas e bairros pobres em busca de “bandidos”, todas as vezes que ocorre algum assalto a uma grande instituição financeira ou quando o patrimônio de algum grande proprietário é atingido. Tornamo-nos indiferentes ao menor mendigando nos faróis através do vidro dos nossos automóveis, devidamente fechados para evitar qualquer contato com aquele “mundo”. Fingimos nada ter a ver com o assassinato do menino pelo segurança da loja enquanto aquele tentava furtar o “tênis” e a “camiseta” que a televisão todos os dias afirma ser o sinônimo da moda, beleza, status e prestígio com as garotas.

A inversão de valores também naturaliza guerras genocidas. Pensamos que, se os EUA matam no Iraque, o fazem porque PRECISAM proteger sua indústria e fontes de energia. Achamos isso natural, e até chegamos a cogitar se, no lugar deles, não faríamos exatamente o mesmo. De maneira análoga, somos inclinados a chamar a polícia se alguém passa por nós “em atitude suspeita”. Julgado por nós como “possíveis” bandidos por conta de trajar roupas simples, pela cor da pele ou pelo lugar de moradia, assumimos a pobreza como pré-requisito da índole criminosa. Enquanto tomamos cerveja confortavelmente instalados em nossas varandas, ou dirigimos nossos confortáveis, modernos e protegidos automóveis, ou mesmo quando assistimos TV em nossos eficientes aparelhos e manuseamos nossos modernos computadores, tememos pelo “diferente” que passa do outro lado do muro, que está parado na esquina, pelo aspecto pobre de sua roupa e pela cor da sua pele. Tememos pelo nosso “patrimônio”, e nos sentimos aliviados quando a polícia passa por ali e o aborda. Quase infartamos se o infeliz resolve, por alguma razão, parar no portão da nossa casa, ainda que para pedir alguma informação ou um simples copo de água fresca. Embora não admitamos, é a cumplicidade da sociedade com relação ao “medo” do pobre que “autoriza” ações violentas contra eles.

Os exemplos são muitos, e não é preciso lembrar um por um. Apenas para citar ações como aquela cometida contra menores moradores de rua que dormiam na frente da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro em 1993, ou contra o índio pataxó, confundido com um “mendigo”, queimado vivo enquanto dormia numa praça em Brasília, em 1997. Já nos acostumamos a escutar pelo noticiário informações sobre moradores de rua que são assassinados na cidade de São Paulo, e achamos tudo isso natural. Desde que, é claro, nosso patrimônio, nosso carro e nossa casa esteja em segurança, protegida destes “suspeitos”, e que eles estejam “sob controle”. Então, porque a morte de centenas de pessoas em favor da defesa do patrimônio material, no caso do mercado Ycuá Bolaños, deve ser entendido como um fenômeno isolado de uma lógica maior? Será que os proprietários do mercado podem ser considerados individualmente culpados por terem avaliado que os pobres da sociedade paraguaia eram potenciais “bandidos”, pelo simples fato de possuírem uma condição social humilde? Não teríamos também nossa parcela de culpa nisso tudo, por gerar, alimentar e naturalizar a sociedade de consumo que sobrepõe bens materiais e relação ao ser humano, considera pobres como possíveis ladrões e nos ensina que ostentar, possuir e consumir é sinônimo de prestígio, respeito e felicidade? Temos sim, nossa parcela de culpa. Que tragédias como a do Ycuá Bolaños não sejam em vão e coloque dúvidas sobre nossas certezas, como a crença inefável na civilização criada pelo capitalismo.

Charles Darwin se envergonharia se vivesse hoje e, ao contrário do que escrevera no século XIX, constatasse que hoje nossa “evolução” nos colocou abaixo de seres “irracionais” como os animais; estes, embora também matem e morram entre si, o fazem por disputa de alimentos, água, território e fêmeas; numa palavra, pela sobrevivência da própria espécie. Nós, diferentemente, matamos, morremos e deixamos que se mate por causa de dinheiro, carros, tênis, roupas, jóias caras e milhares de outras quinquilharias criadas pela moderna sociedade industrial e de consumo da qual fazemos parte.

(Emilio Gonzalez - Historiador - é morador de Foz do Iguaçu e Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR
Campus de Campo Mourão / PR).

(Danilo Georges- historiador- morador de Foz do Iguaçu e professor)