segunda-feira, 27 de junho de 2011

memórias de socialistas sem vergonha

Chegava em um morro no Rio de Janeiro, um grupo de jovens militantes que propunham um trabalho social naquele lugar. Ao se apresentar ao líder comunitário um dos jovens disparou “boa tarde, sou Jonathan Marxista, leninista, trotskista”. O líder comunitário respondeu eu sou Zé Beto eletricista e sem mais ista.

Em um showmício eleitoral qualquer, um jovem começou a discursar sobre a Obra de Engels “A Sagrada Família”. O jovem não reparava que o público não conhecia aquela leitura, pois falava para um público popular.
Ao citar a sagrada família uma senhora que carregava uma criança no colo, cutuca uma moça ao lado e diz “viu, não falei que ele era crente”.

Certa vez um intelectual renomado de uma universidade federal que participava de um ato contra a violência do Estado em uma favela disse: “o povo daqui é muito alienado, nós temos que vir aqui dirigir as massas”. Um bêbado que ouvira aquela frase interviu: “eu também dirijo as massas”. O intelectual encucado disse desconfiado: “é mesmo”? Ele: “Sim. Trabalho de moto taxista em uma pizzaria dirigindo as massas”.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS


Vida nossa de todos os dias

Seu Oscar era mais um daquelas pessoas invisíveis na qual a sociedade fingi, não vê, vivia sujo, fedido e com uma aparência cansada. Como viera do Chile de forma clandestina não tinha nenhum documento do Brasil, não chamava atenção nem dos programas assistencialistas do governo, dessa forma virou catador de reciclados na região de três lagoas, uma das maiores regiões periféricas de Foz do Iguaçu.

Vivia empurrando um carrinho feito por ele próprio, de madeira, com dois pneus de carro, seu trabalho era exaustivo, também não era para menos, o calor consumia suas energias, os termômetros da cidade apontaram naquele verão de 2007 para os 40° graus.

Tinha uma rotina puxada de segunda a sábado acorda ás 05h30min da manhã, e volta as 18h00min para casa. Caminha pelas ruas e junta o máximo de lixo encontrado nas ruas, juntava aquilo que a sociedade não consome, seu Oscar não catava somente materiais reciclados; também catava sonhos, sonhava em encontrar algum material valioso em meio ao lixo que revirava , chegou a levar alguns objetos para casa, mas seu tesouro em meio ao lixo nunca foi encontrado.

Mais um dia sua vida iria mudar era o que ele repetia para si mesmo. Rezava todos os dias quando acordava, e tinha esperança que um dia sua situação miserável melhorasse, foi assim por mais de 15 anos, sua fé era inabalável carregava uma imagem de santo Expedito em seu carrinho de cata-reciclados. Santo expedito é conhecido como "o santo das causas urgentes” e para seu Oscar era necessário o quanto antes sair daquela situação.

Na realidade ele tinha um bom e justo motivo para ter fé, lutou na década de 70, em um movimento revolucionário no Chile, escapou de diversas emboscadas promovidos pela repressão do governo de Pinochet, o que foi uma das mais sanguinárias ditaduras da América – latina.

Andava armado como de praxe com sua pistola a qual chamava carinhosamente de Violeta, primeiro nome da sua heroína a cantora que escutava e sonhava namorar durante a adolescência rebelde no Chile, Violeta Parra.

Violeta era um nome que tinha um grande significado em sua vida, pois tudo que tinha atualmente era resumido nesse nome, alguns vinis da cantora conhecida pelo seu tom de protesto e sua velha pistola, andava sempre em companhia da Violeta segunda, pois tinha uma síndrome de perseguição, um trauma que herdara da vida de fuga e de acossamento.

Um dia parece que santo expedito ouviu suas orações e seu destino começara a mudar, catava lixo na frente do posto da Texaco, como faria diariamente, o dono do posto seu Sérgio, após ficar sabendo que seu Oscar tinha sido um guerrilheiro e portava uma arma, fez uma posposta para ele fazer a segurança do posto, não que Sérgio seja uma pessoa bondosa, generosa e que partia seu coração ao vê aquele senhor revirar os lixos do bairro, mas como um bom burguês pensava na defesa da sua propriedade.

O posto Texaco fora muitas vezes assaltado e acreditará que por seu Oscar ter uma fama de rebelde, ligado á um passado de revolução armada assustaria a malandragem daquela região, designando o mesmo para a segurança do local.

Assim Oscar ganhará desde que chegou ao Brasil a primeira oportunidade de ter um emprego com salário fixo por mês, pois os 80, 00 reais que ganhava juntando reciclado não davam para nada, começara a sonhar ali com o salário de 250,00 reais que Sérgio ofereceu, planejara comprar um som toca CD portátil no Paraguai, assim poderia ouvir a música de Violeta Parra enquanto trabalhava.

Oscar enxergava no novo emprego a oportunidade que sempre esperava, via naquele momento uma promoção social, abandonou o carrinho de catar reciclado que o acompanhou por sete anos desde que chegou a Foz, agora ele trabalhava na sombra e não fedia mais, assim passou a acreditar que tinha subido um degrau na escala evolutiva do capitalismo.

Atualmente vive em contradições com alguns ideais comunistas que permanecem em seu coração, quando percebe a ma fé do patrão Sérgio, que sacaneia diariamente os frentistas e clientes do posto, lembra do seu passado da vida guerrilheira aonde aprenderá a dividir até as migalhas de comida com os companheiros de guerrilha, assim às vezes pensa em abandonar o emprego pois o corta por dentro conviver com uma pessoa tão gananciosa como Sérgio,mas voltar a catar lixo era o que menos queria para sua vida pois agora conseguia até algumas mulheres.

Para aliviar sua consciência se remete há uma pergunta: como seria se virássemos o tapete? E se quem estive em cima fosse para baixo?

Assim prossegue com a velha Violeta na cinta, com seu som portátil e com a imagem de santo expedito, agora colada no som, desacreditado da mudança e das pessoas, é mais um que vai levando a vida, e se você o questionar sobre mudança, revolução e outras questões políticas ele irá olhar no fundo dos seus olhos com um ar de dúvida e irá te fazer a mesma pergunta que ocupa seu subconsciente, como seria se virássemos o tapete? E se quem estivesse em cima fosse para baixo?

Danilo Georges

Historiador, e pesquisador das camadas populares da cidade de Foz do Iguaçu, afirma que 99% das histórias narradas no Fanzine serão verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A domesticação do trabalhador por: Fronteira Zero
A domesticação do trabalhador
Indignação é a palavra que resume o sentimento de qualquer ser humano critico que teve o prazer, ou melhor, o desprazer ao assistir uma das séries das reportagens sobre o Mercado de Trabalho exibida no Jornal Hoje dia 06/06 da nossa querida, ilustríssima Rede Globo (só pra variar). A reportagem inicia falando sobre os diferentes tipos de chefes: mal humorados, manipuladores e por aí vai... Assim o objetivo principal de toda essa “análise” é ensinar o empregado em como lidar com seus chefes, respeitando-os acima de tudo. Nesse sentido, é visivelmente clara a idéia de domesticação do trabalhador encontrada no cotidiano das relações capitalistas de exploração do trabalho, e como se não bastasse, essa idéia vem sendo reforçada pela mídia de modo escrachado.

A sociedade atual, conhecida como a “sociedade do trabalho”, na qual, é o centro da vida social de todos os indivíduos, se constitui de uma massa de trabalhadores domesticados, que não se reconhecem como sujeitos; quando uma de suas principais características é exatamente a idéia de obediência e não contestação, uma vez que, o sistema capitalista impõe ao trabalhador a necessidade de trabalhar para que se possa ao menos subsistir.

Nesse sentido, o trabalhador manipulado se vê num beco sem saída: “Preciso trabalhar porque preciso comer, então tenho que aceitar mesmo não concordando com algumas coisas“, ou seja, a domesticação do trabalhador vai acontecendo de forma gradual e intrínseca na sociedade, exemplo disso são essas reportagens ridículas que a grande mídia manipuladora transmite, reforçando cada vez mais esse discurso de “bom empregado”, que nada mais é, do que a alienação do trabalhador.

Durante a reportagem é feito o seguinte comentário: “O chefe ideal é o chefe participativo. Ele ouve as pessoas, aceita sugestões, argumenta, se posiciona, mas ao mesmo tempo dá oportunidades”, ou ainda "No sucesso somos todos ganhadores e no fracasso e no erro, todos perdemos, toda equipe, toda a empresa perdeu”, declara a especialista.

Como assim? Esse modelo de chefe ideal não existe e nunca irá existir! No sistema capitalista defende-se a idéia de formação da personalidade humana através do trabalho, que diga-se de passagem é trabalho forçado e alienado. Desse modo esse modelo de chefe participativo, que dá oportunidades e aceita sugestões, exposto na reportagem, é incoerente à ideologia do capital. E, se de alguma maneira, algumas ações políticas empresariais demonstram algum caráter humanitário, trata-se simplesmente daquela bela expressão que já discutimos aqui no Movimento Fronteira Zero: A Flexibilização das leis trabalhistas, que nada mais é, do que a idéia de crescimento econômico da empresa junto ao seu colaborador. Sim, colaborador é como atualmente é chamado o trabalhador. Que bonitinho... Agora o trabalhador tem participação no crescimento da empresa! É claro que sim, sabemos que o trabalhador participa e muito deste crescimento, com sua força de trabalho, mais valia e “bom comportamento”...

sexta-feira, 3 de junho de 2011












CONTRA O PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E SEGREGAÇÃO SOCIAL NOS SHOPPINGS E NOS ESPAÇOS PÚBLICOS

Apenas 17 anos nos separam do “fim” do apartheid na África do Sul, regime pelo qual os negros não tinham o direito de compartilhar os mesmos espaços dos brancos. Cartazes com indicação “Só para brancos” eram comuns nos espaços públicos.

Nos Estados Unidos, na década de 60 ainda existiam leis que negavam aos cidadãos não-brancos uma série de direitos. Era proibido o casamento inter-racial e a segregação acontecia no transporte e banheiros públicos, onde um negro tinha que se retirar e ceder seu lugar ao branco. O racismo – teoria não cientifica que prega a superioridade de uma raça sobre a outra – serviu também para justificar a escravidão de milhões de negros.

O racismo, preconceito, discriminação, intolerância, se manifestam de forma diferente na nossa sociedade, mas todos deixam feridas dolorosas. O apartheid continua vivo, mas assumiu formas diferentes, hoje os segregados não são só os negros, mas pessoas vindas de favelas e periferias e grupos sociais marginalizados (entende-se por marginalizados aqueles que vivem à margem da sociedade sem acesso aos direitos fundamentais de cidadania).

No Brasil percebemos que grupos sociais como o Movimento Hip-Hop, um movimento negro oriundo das favelas e que se assume como favelado, sofreu grande preconceito por parte da sociedade. O modo de se vestir, de falar, de andar, de cantar, de dançar, de se manifestar e de se relacionar ainda não foi compreendido por parte da população. Nosso estilo de vida ainda causa estranhamento, apesar de o movimento estar perto de completar três décadas de existência em nosso país e de furar vários bloqueios conseguindo inserção no cinema, universidades, museus, mídia impressa, rádio e televisão.

Em Foz do Iguaçu, moradores de favela percebem que não são bens vindos em certos espaços públicos. Ao adentrar em mercados, farmácias, grandes lojas, e diversos outros estabelecimentos no centro da cidade percebe-se nos olhares de seguranças e proprietários o preconceito e a desconfiança.

No Shopping Cataratas JL, por exemplo, quando entra uma pessoa com roupa de Hip-Hop, ou vestido de forma que o identifique como um morador de favela, percebemos a articulação dos seguranças com seus rádios-amadores para ficar vigiando e seguindo essa pessoa por onde ela andar dentro do estabelecimento.

Em grandes eventos, como FARTAL, eventos no Gramadão da Vila A, e outros espaços, a gente percebe o tratamento da segurança para com a galera do Hip-Hop e da favela, existe uma nítida perseguição a esse grupo de pessoas, que sempre são os abordados pelos seguranças durante esses eventos. Essa perseguição acontece também no dia a dia nas periferias e favelas, através das abordagens policiais, na maioria das vezes feitas de forma violenta e desrespeitosa. Sempre que nos reunimos nas praças, no centro da cidade ou em algum bairro, para dançar, cantar, ou compartilhar alguns momentos juntos, somos abordados como se fossemos criminosos.

O direito de ir e vir sem ser discriminado é um direito amparado no Art. 5° da Constituição Federal. A violação desse direito é um crime contra os direitos humanos. O Movimento Hip-Hop está lutando contra o preconceito, racismo, discriminação e a intolerância e defende o direito de acesso a espaços públicos a todos os cidadãos. Um país que se diz democrático e uma cidade que caminha pro seu centenário e que recebe visitantes do mundo todo não pode admitir que práticas segregacionistas continuem acontecendo diariamente com a sua população, onde a juventude favelada é a maior prejudicada. Não podemos e não vamos aceitar que se naturalize a idéia de que esses espaços não nos pertencem. Quanto mais a gente for estigmatizado e segregado, a nossa sociedade será pior e se desumanizará cada vez mais.

Porque será que existe esse medo todo com a favela e com o Movimento Hip-Hop?
Isso é fruto do sistema capitalista que impõe a padronização das relações humanas e do estilo de vida das pessoas. Um sistema que valoriza mais o patrimônio do que a vida. Que persegue e criminaliza o comercio popular de rua e fortalece os Shoppings Center como modelo global de consumo. Que promove o consumismo desenfreado à custa da degradação e destruição do meio ambiente.

Por isso somos a favor da diversidade e aprendemos a conviver com as diferenças. Mas essas diferenças não podem jamais criar desigualdades.

Por isso somos socialistas!!!

Ato dia 05 de junho (domingo)
Concentração em frente ao Shopping Cataratas JL
A partir das 16:00hs
Roda de Break e de Rima – Grafite – Distribuição de Informativo